Em um dos aforismos de A Gaia Ciência, o filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900) levanta a instigante hipótese de que a origem da poesia está diretamente ligada ao desejo de se exercer um poder. De resto, acrescentaria mais tarde Michel Foucault (1926-1984), essa é também a origem de qualquer forma de conhecimento. Foi porque pretendia exercer um poder sobre o outro, sobre os deuses ou sobre as forças da natureza, que o homem “fez penetrar o ritmo no discurso, esta força que reordena todos os átomos da frase, que compele a escolher as palavras e dá nova colocação ao pensamento” . A poesia é, deste modo, a mais encantadora das formas de dominação inventadas pelo homem.
Quer se concorde ou não com tal hipótese sobre a origem da poesia, o fato é que esta tem sido no decurso da história frequentemente apropriada como instrumento de poder, em outros casos como arena livre onde forças diversas se digladiam, onde são desencadeados tanto conflitos individuais internos ao homem como conflitos sociais que o circundam. A poesia acolhe indistintamente os poderosos e os que a estes se opõem: a um poeta é por vezes dada a licença para dizer, sob o manto protetor do ritmo e das imagens poéticas, o que jamais poderia ser dito em prosa corrente. Ou, em outros casos, mesmo quando um poeta termina seus dias na masmorra, as suas canções conseguem circular livremente.
Com a ousadia de penetrar no misterioso reino das metáforas poéticas, poderíamos acrescentar que o ‘fio da voz’ é ainda mais cortante que o ‘fio da espada’. Enquanto esta corta a matéria, a poesia corta o simbólico, invade o imaginário e o submete ao poder daqueles que detém o verso. E a partir daí – porque não ir mais longe? – estabelece também o seu senhorio sobre a matéria.
O Poder em Cena na Arena dos Trovadores: um estudo sobre as relações entre poesia e poder no trovadorismo ibérico
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