LIVRO DE POESIAS:
O Segredo de Caracol é um livro sem analogias ou contemporaneidades. Suas poesias não tem o doce ou o azedo da exatidão, nem o ácido ou o amargo das palavras prontas. Subsiste na leveza e no limiar da fragilidade do que faz sentido e não corre o risco de desaparecer porque guarda a aceitação do mistério. O livro cria imagens e cenas que saem das palavras, em flechas certeiras para compor o imaginário, dando realidade ou fantasia ao que subsiste de uma forma pura, em cada palavra, frase ou texto. Apesar de ser o primeiro livro publicado do autor, Segredos de Caracol, traz consigo anos e anos de construção poética, amadurecido nas noites insones e longas quando a quietude da noite nos expõe feridas que calam ao nascer do dia, entranhadas no perceber das horas e vestidas da máscara do dia a dia. Mas não é um livro que vive da quietude da noite, clamando solidão e derramando as lamúrias de infelicidade dos amores perdidos. A rotina ganha contornos interessantes em sua diversidade e plenitude, e os poemas banham-se da luz do sol, do mar constante que atinge a praia e se avoluma dentro dos raros caracóis trazidos à areia, escondendo tantos outros segredos. Segredos do Caracol surgiu de um aforisma de que “quanto mais ouço, mais mudo”, e eu diria que, por não poder calar, o poeta precisa fazer-se ouvir na forma mais ampla possível, mesmo que seja só para ele mesmo ou esperando ser notado pela sua forma mais sutil de expressar. O caracol nos arremete às diferentes formas de adaptação: às mudanças das marés, aos inconstantes humores do mar, bravio ou sereno, aos alavancos do amor que escorregadio, entra e sai das nossas vidas, ao deitar na areia e ver o sol se por na tarde longa ou se arrastar sobre pedras, esperando um local mais propício para simplesmente ver as estrelas que se arrastam pelo firmamento. É conhecer o chão, se arrastar na areia e contemplar o seu vazio e imensidão, mas guardar também os sons do mundo que chora e espera que os bons ventos disseminem sonhos. Assim éramos e continuamos sendo crianças, mesmo que dentro de uma concha vazia, carcomida de marés e maresias, quando homens que se arrastam de mar nas paredes da solidão, recolhidos na praia, nas mãos de quem consiga decifrar seu segredo.
Daniel Genovez, Rio de Janeiro, 15 de Novembro de 2017.
O Segredo de Caracol é um livro sem analogias ou contemporaneidades. Suas poesias não tem o doce ou o azedo da exatidão, nem o ácido ou o amargo das palavras prontas. Subsiste na leveza e no limiar da fragilidade do que faz sentido e não corre o risco de desaparecer porque guarda a aceitação do mistério. O livro cria imagens e cenas que saem das palavras, em flechas certeiras para compor o imaginário, dando realidade ou fantasia ao que subsiste de uma forma pura, em cada palavra, frase ou texto. Apesar de ser o primeiro livro publicado do autor, Segredos de Caracol, traz consigo anos e anos de construção poética, amadurecido nas noites insones e longas quando a quietude da noite nos expõe feridas que calam ao nascer do dia, entranhadas no perceber das horas e vestidas da máscara do dia a dia. Mas não é um livro que vive da quietude da noite, clamando solidão e derramando as lamúrias de infelicidade dos amores perdidos. A rotina ganha contornos interessantes em sua diversidade e plenitude, e os poemas banham-se da luz do sol, do mar constante que atinge a praia e se avoluma dentro dos raros caracóis trazidos à areia, escondendo tantos outros segredos. Segredos do Caracol surgiu de um aforisma de que “quanto mais ouço, mais mudo”, e eu diria que, por não poder calar, o poeta precisa fazer-se ouvir na forma mais ampla possível, mesmo que seja só para ele mesmo ou esperando ser notado pela sua forma mais sutil de expressar. O caracol nos arremete às diferentes formas de adaptação: às mudanças das marés, aos inconstantes humores do mar, bravio ou sereno, aos alavancos do amor que escorregadio, entra e sai das nossas vidas, ao deitar na areia e ver o sol se por na tarde longa ou se arrastar sobre pedras, esperando um local mais propício para simplesmente ver as estrelas que se arrastam pelo firmamento. É conhecer o chão, se arrastar na areia e contemplar o seu vazio e imensidão, mas guardar também os sons do mundo que chora e espera que os bons ventos disseminem sonhos. Assim éramos e continuamos sendo crianças, mesmo que dentro de uma concha vazia, carcomida de marés e maresias, quando homens que se arrastam de mar nas paredes da solidão, recolhidos na praia, nas mãos de quem consiga decifrar seu segredo.
Daniel Genovez, Rio de Janeiro, 15 de Novembro de 2017.