De seguida, fechou os olhos por vinte longos minutos, tocou com a bengala dele no meio das costas e arrancou duas asas cor de vidro. A bengala de kituta (porque os anjos parece não se servirem de bengala) tocou na reentrância das minhas omoplatas, onde o Kangrima enraizou as duas asas. Uma calada dor me formigou a carne nessa operação a sangue-frio. Eram asas transparentes, cristalinas. Tinham aquela textura diáfana das asas das cigarras que faziam sinfonia com o vento entre as copas das casuarinas da floresta da Ilha de Luanda.As mentes dos súbditos do Reino das Casuarinas eram cascas vazias de cigarras coladas nos troncos das árvores coníferas. Por vezes, um fiozinho de vento da memória penetrava essas cascas e a reminiscência de um canto ecoava no seu bojo. Cada um morava no seu próprio exílio interior.José Luís Mendonça nasceu em Angola, no dia 24 de Novembro de 1955. Licenciado em Direito pela Universidade Católica de Angola, é jornalista de profissão, actualmente vinculado às Edições Novembro, E.P., onde exerce o cargo de director e editor-chefe do Jornal CULTURA, quinzenário angolano de Artes e Letras. Em 2005, foi contemplado com o Prémio Notícias Gerais da Lusofonia, no Concurso CNN Multichoice Jornalista Africano. No mesmo ano, o Ministério da Cultura atribuiuâ??lhe o Prémio Angola Trinta Anos, na disciplina de Literatura, no âmbito das comemorações do 30.º Aniversário da Independência Nacional, pela sua obra poética Um Voo de Borboleta no Mecanismo Inerte do Tempo. É autor de vários livros de poesia e de um conto.
O Reino das Casuarinas
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