We love eBooks

    Pastoral americana

    Por Philip Roth
    Existem 14 citações disponíveis para Pastoral americana

    Sobre

    Versão revisada em julho de 2014.


    No estilo impetuoso e desbocado de Philip Roth, Pastoral americana narra os esforços de Seymour Levov para manter de pé um paraíso feito de enganos. Filho de imigrantes judeus que deram duro para subir na vida, Seymour tenta em vão comunicar um legado moral à terceira geração da família Levov. Esmagado entre duas épocas que não se entendem e desejam destruir-se mutuamente, Seymour se apega até o fim a crenças que se mostram cada vez mais irreais. A força de sua obstinação em defesa de uma causa perdida lhe confere um caráter ao mesmo tempo heróico e louco.

    Para contar a história, Philip Roth ressuscita seu famoso alter ego, o romancista Nathan Zuckerman, herói e narrador do romance Complexo de Portnoy. Na voz de Zuckerman, Seymour Levov assume a dimensão patética de um Adão obediente que um dia, sem entender por que, se vê expulso do paraíso.

    Baixar eBook Link atualizado em 2017
    Talvez você seja redirecionado para outro site

    Citações de Pastoral americana

    A obediência está contida na idéia de baixar os riscos.

    A filha que o transporta para fora da sonhada pastoral americana e para dentro de tudo o que representa a sua antítese e o seu inimigo, para a fúria, a violência e o desespero da contrapastoral — para a selvageria nativa americana.

    Ele aprendera a pior lição que a vida pode ensinar — que ela não faz sentido. E quando isso acontece, a felicidade nunca mais é espontânea. É artificial e, mesmo então, obtida ao preço de um tenaz alheamento de si mesmo e da própria história.

    Combatemos nossa superficialidade, nossa falta de profundidade, de modo a tentarmos nos aproximar dos outros livres de expectativas irreais, sem uma sobrecarga de preconceitos, esperanças, arrogância, da forma menos parecida com o avanço de um tanque, sem canhão, sem metralhadoras e sem chapas de aço de quinze centímetros de espessura;

    O judaísmo que nele, na qualidade de vencedor alto, louro e atlético, era incipiente, também deve ter exercido sobre nós um certo apelo — em nossa idolatria pelo Sueco e na sua inconsciente integração com a América, suponho que houvesse um toque de vergonha e de auto-rejeição. Desejos judeus conflitantes despertados pela visão do Sueco eram ao mesmo tempo apaziguados por ele; a contradição nos judeus que querem se integrar e se manter à parte, que insistem em que são diferentes e insistem em que não são diferentes, vinha encontrar sua solução no espetáculo triunfal desse Sueco que era, na verdade, apenas mais um Seymour entre tantos de nosso bairro, cujos ancestrais foram Solomons e Sauls e que viriam, por sua vez, a gerar Stephens que, por seu turno, gerariam Shawns. Onde estava o judeu nele? A gente não conseguia enxergar e, mesmo assim, sabia que estava ali. Onde estava nele a irracionalidade? Onde estava o jeito de bebê chorão? Onde estavam as tentações obstinadas? Nenhuma malandragem. Nenhum artifício. Nenhum logro. Tudo o que ele havia eliminado a fim de alcançar a sua perfeição. Nenhum esforço, nenhuma ambivalência, nenhuma dubiedade — apenas o estilo, o refinamento físico do astro.

    ia para Avon a fim de fugir da sua beleza, mas não podia fugir dela, do mesmo modo que não podia ostentá-la abertamente. É preciso desfrutar com satisfação o poder, é preciso ter certa crueldade, para aceitar a beleza e não se lamentar com o fato de que ela mesma faz sombra em tudo o mais. A exemplo de qualquer traço muito saliente que nos destaca e nos transforma em uma pessoa excepcional — e invejável, e detestável —, para aceitar nossa beleza, para aceitar o efeito que ela produz nos outros, para brincar com ela, para fazê-la render o máximo, o mais sensato é desenvolver o senso de humor. Dawn não era uma pessoa sem graça, tinha espírito e vivacidade, e podia ser mordaz de um modo bastante divertido, mas não se tratava de maneira alguma do tipo de humor interior necessário para dar conta do recado e torná-la livre. Só depois que se casou e já não era mais virgem, descobriu o lugar onde era muito bom ser linda como era, e esse lugar, para benefício tanto do marido quanto da esposa, era ao lado do Sueco, na cama.

    Combatemos nossa superficialidade, nossa falta de profundidade, de modo a tentarmos nos aproximar dos outros livres de expectativas irreais, sem uma sobrecarga de preconceitos, esperanças, arrogância, da forma menos parecida com o avanço de um tanque, sem canhão, sem metralhadoras e sem chapas de aço de quinze centímetros de espessura; a gente se aproxima das pessoas da forma menos ameaçadora, de pés descalços, em vez de vir rasgando o capim com as esteiras do trator, recebe o que elas dizem com a mente aberta, como iguais, de homem para homem, como dizíamos antigamente, e mesmo assim a gente sempre acaba entendendo mal as pessoas. A gente pode também possuir o cérebro de um tanque. Já estamos entendendo errado as pessoas antes mesmo de encontrá-las, enquanto ainda estamos prevendo o que vai acontecer; entendemos errado enquanto estamos diante delas; e depois vamos para casa e contamos a alguém sobre o encontro, e de novo entendemos tudo errado. Uma vez que a mesma coisa acontece com os outros em relação a nós, tudo vira uma ilusão desnorteante, destituída de qualquer percepção, uma espantosa farsa de incompreensões.

    Merry acredita que, se levantar a mão, vai esmagar e matar um micróbio inocente que passa voando inocentemente perto dela — ela se acha em um contato tão estreito com o seu ambiente que qualquer movimento que faça provocará as conseqüências mais assombrosamente diretas — e o Sueco acredita que, se retirar da parede um cartaz detestável e repugnante que Merry colocou ali, causará danos à integridade da filha, à sua psique, aos seus direitos assegurados na Primeira Emenda da Constituição. Não, ele não era um jainista, refletiu o Sueco, mas podia muito bem ter sido — era não violento da mesma forma patética e ingênua. A idiotice da probidade dos objetivos que impusera a si mesmo.

    Eles estão chorando com toda a força, o pai leal cujo núcleo é a fonte de toda a ordem que existe, o pai que não poderia fazer vista grossa ou sancionar nem mesmo o mais ligeiro sinal de caos — o pai para quem manter o caos longe, ao largo, tinha sido o caminho escolhido por intuição para chegar ao que é certo e seguro, a abnegada e rigorosa vida cotidiana — e a filha, que é o próprio caos.

    Portanto, não era preciso ir procurar muito além de mim e de Ira para ver por que passamos pela vida com a sensação geral de que todo o mundo está errado, exceto nós mesmos. E como a gente não só esquece as coisas simplesmente porque elas não importam mas também esquece as coisas porque elas importam muito — porque cada um de nós recorda e esquece segundo um padrão cujas curvas labirínticas representam um sinal de identificação não menos individual do que uma impressão digital —, não é de admirar que os fragmentos da realidade que uma pessoa acolhe zelosamente como constituintes da sua biografia possam parecer a uma outra, que, digamos, tenha comido dez mil jantares na mesma mesa de cozinha, nada mais do que uma caprichosa excursão no terreno da mitomania.

    Escrever transforma a gente em uma pessoa que está sempre errada.

    Persiste o fato de que entender direito as pessoas não é uma coisa própria da vida, nem um pouco. Viver é entender as pessoas errado, entendê-las errado, errado e errado, para depois, reconsiderando tudo cuidadosamente, entender mais uma vez as pessoas errado. É assim que sabemos que continuamos vivos: estando errados.

    Persiste o fato de que entender direito as pessoas não é uma coisa própria da vida, nem um pouco. Viver é entender as pessoas errado, entendê-las errado, errado e errado, para depois, reconsiderando tudo cuidadosamente, entender mais uma vez as pessoas errado. É assim que sabemos que continuamos vivos: estando errados. Talvez a melhor coisa fosse esquecer se estamos certos ou errados a respeito das pessoas e simplesmente ir vivendo do jeito que der. Mas se você é capaz de fazer isso… bem, boa sorte.

    Nenhuma ilusão é mais corriqueira do que aquela que a nostalgia nos inspira na velhice,

    eBooks por Philip Roth

    Página do autor

    Relacionados com esse eBook

    Navegar por coleções