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    O mundo é bárbaro

    Por Luis Fernando Verissimo
    Existem 14 citações disponíveis para O mundo é bárbaro

    Sobre



    Passados 508 anos, o ser-humano parece inviável, segue ateando fogo à Terra e nada indica que um superbombeiro se aproxima para a apagar o incêndio. Do meio ambiente à política, passando pela economia e pelo comportamento bárbaro das pessoas no dia-a-dia, sobram argumentos para os pessimistas. Mas nem tudo está perdido. O planeta é habitado pelo humor de Luis Fernando Verisimo e sua salvação está nas crônicas reunidas no livro ?O mundo é bárbaro?. Escolhidas num universo de 500 textos, entre os melhores que o autor escreveu nos últimos oito anos, elas discutem a ascensão chinesa, a guerra contra o terror, a candidatura de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos e o passado e o futuro do Brasil e da América Latina. Simultaneamente, fazem um raio x acurado do comportamento do homem contemporâneo. Em ?O mundo é bárbaro?, destaca-se o talento único de Veríssimo para casar assuntos que dizem respeito a toda a humanidade com outros tirados da banalidade cotidiana, sempre com os textos curtos e o olhar crítico aguçado que o tornou referência tanto para o leitor comum quanto para escritores e jornalistas de renome.
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    Citações de O mundo é bárbaro

    Na própria Inglaterra já tem muita gente achando que a monarquia é um anacronismo condenado, cujo custo não compensa o teatro. Vão acabar dizendo o mesmo do Congresso brasileiro.

    A realeza é paga para ser o teatro do poder, uma representação do Estado como drama familiar, como sitcom, para inspirar, divertir ou indignar os súditos, enquanto os parlamentares governam.

    Outro dia ficamos sabendo que o Stephen Hawking voltou atrás na sua teoria sobre os buracos negros, aqueles furos no Universo em que a matéria desaparece. Nem eu nem você entendíamos a teoria, e agora somos obrigados a rever nossa ignorância: os buracos negros não eram nada daquilo que a gente não sabia que eram, são outra coisa que a gente nunca vai entender.

    Já se disse que o Brasil está várias revoluções atrasado. Nem o fim do feudalismo foi providenciado ainda.

    o futuro imaginado no passado não incluía uma palavra, uma pista, uma sugestão que fosse da grande revolução da informática que viria e ninguém previu. Quer dizer, já era um futuro obsoleto.

    São os otários que sustentam a República. No Brasil, a hipocrisia é uma forma de patriotismo.

    situe-se como indivíduo, cidadão, eleitor, entidade autônoma e precário organismo evanescente num Universo em degradação.

    passamos da barbárie à decadência sem o estágio intermediário de pelo menos algo para chamar de bons tempos,

    A velhinha contrabandista Todos conhecem a história da velhinha contrabandista. Todos os dias uma velhinha atravessava a ponte entre dois países, de bicicleta e carregando uma bolsa. E todos os dias era revistada pelos guardas da fronteira, à procura de contrabando. Os guardas tinham certeza que a velhinha era contrabandista, mas revistavam a velhinha, revistavam a sua bolsa, e nunca encontravam nada. Nada. Todos os dias a mesma coisa: nada. Até que um dia um dos guardas decidiu seguir a velhinha, para flagrá-la vendendo a muamba, ficar sabendo o que ela contrabandeava e, principalmente, como. E seguiu a velhinha até o seu próspero comércio de bicicletas e bolsas. Como todas as fábulas, esta traz uma lição, só nos cabendo descobrir qual. Significa que quem se concentra no mal aparentemente disfarçado descuida do mal disfarçado de aparente, ou que muita atenção ao detalhe atrapalha a percepção do todo, ou que o hábito de só pensar o óbvio é a pior forma de distração. No Brasil, temos o hábito de procurar e nos indignar com o escândalo menor e deixar passar o escândalo maior, ou o uso do dinheiro público para lucro privado e proveito político, que inclui desde privatizações subsidiadas pelo Estado e a benemerência com bancos falidos até espionagem e contra-espionagem com fins eleitoreiros, sem falar no condominato com as “oligarquias corruptas do Norte e Nordeste”, que só se tornaram reprováveis quando se tornaram politicamente inconvenientes. Isto é o banal, é o corriqueiro, é a velhinha passando de bicicleta pela ponte todos os dias.

    Resta aos sem-verdade fazer o que fazem os sem-terra: se organizarem e pedirem uma reforma semântica para valer, uma reavaliação do significado de palavras e conceitos e uma distribuição mais justa da verdade entre os brasileiros. A concentração da verdade numa minoria e a resistência à verdade compartilhada ou à reforma da verdade acabará sendo ruinosa para todos, inclusive os seus atuais proprietários.

    Não precisamos de uma mentalidade ecológica. Precisamos de uma mentalidade de locatários. E do terror da indenização.

    “É”, respondi. “Chega desta irresponsabilidade tropical, desta indecência social disfarçada de bonomia, desta irresolução criminosa que passa por afabilidade, deste eterno adiamento de tudo. Faça-nos escandinavos, já!” O Diabo: “Tem certeza? Já?” Eu: “Bom… Depois do carnaval.”

    O que move a humanidade Existem muitas teorias sobre o que fez o Homem dominar o planeta e construir civilizações enquanto o joão-de-barro, por exemplo, só consegue construir conjugados, e levar grandes mulheres para a cama enquanto o máximo que um gorila conseguiu foi segurar a mão da Sigourney Weaver. Dizem que o cavalo é mais bonito do que o Homem e a barata é mais resistente, mas não há notícia de uma fuga a três vozes composta por um cavalo ou uma liga de aço inventada por uma barata. Tudo se deveria ao fato de uma linhagem particular de macacos ter desenvolvido o dedão opositor, com o qual conseguiu descascar uma banana e segurar um tacape, as condições primordiais para dominar o mundo. A vaidade, outra característica exclusivamente humana (o pavão também é vaidoso, mas não gasta uma fortuna com as penas dos outros para fazer sua cauda) também teria contribuído para que o Homem prevalecesse, pois de nada lhe adiantariam suas façanhas com o polegar, e com as mulheres, se não pudesse contar depois. Daí nasceu a linguagem, e com ela a mentira, e o Homem estava feito. Mas eu acho que a verdadeira força motriz do desenvolvimento humano, a razão da superioridade e do sucesso do Homem, foi a preguiça. Com a possível exceção da própria preguiça, nenhum outro animal é tão preguiçoso quanto o Homem. O desenvolvimento do dedão opositor nasceu da preguiça de combinar dentes e garras para comer e ainda ter que limpar os farelos do peito depois. A linguagem é fruto da preguiça de roncar, grunhir, pular e bater no peito para se comunicar com os outros e, mesmo, ninguém agüentava mais mímico. A técnica é fruto da preguiça. O que são o estilingue, a flecha e a lança senão maneiras de não precisar ir lá e esgoelar a caça ou um semelhante com as mãos, arriscando-se a levar a pior e perder a viagem? O que estaria pensando o inventor da roda senão no eventual desenvolvimento da charrete, que, atrelada a um animal menos preguiçoso do que ele, o levaria a toda parte sem que

    Mas eu acho que a verdadeira força motriz do desenvolvimento humano, a razão da superioridade e do sucesso do Homem, foi a preguiça.

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