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    Diálogos Impossíveis

    Por Luis Fernando Verissimo
    Existem 13 citações disponíveis para Diálogos Impossíveis

    Sobre



    Qual um existencialista dotado de senso de humor, Luis Fernando Verissimo persegue em suas crônicas o absurdo que marca a existência humana. Nos textos reunidos em Diálogos impossíveis, ganhador do Prêmio Jabuti 2013 de Melhor Livro do Ano de Ficção, o autor escreve sobre impossibilidade, incomunicabilidade e mal-entendidos.
    Imagina como seria Don Juan tentando seduzir a própria Morte ou a conversa cotidiana de um casal que se desentende na hora de dormir. O homem ? e, sejamos igualitários, a mulher ? parece falar o que não deve e calar no fundamental. Para sorte do leitor, Verissimo está sempre por perto, registrando os hilariantes momentos em que o ser humano exerce sua vocação para a confusão.
    Verissimo cria situações surreais, como o incorruptível Robespierre tentando subornar o carrasco; Goya e Picasso conversando sob o sol da Côte d?Azur. Há ainda o relato de Juvenal que planeja matar a mulher, Marinei, que o despreza, e da recém-casada Heleninha cujo urso de pelúcia é seu maior conselheiro. Nas crônicas reunidas no livro, o autor escreve enfim, sobre a vida.
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    Citações de Diálogos Impossíveis

    O computador resgata a memória como mestre da História ou, ao contrário, nos exime de ter memória própria, e decreta o domínio definitivo da escrita sobre quem a pratica?

    Existe até uma velha piada, que Steiner cita, sobre um acadêmico moderno comentando o currículo de Jesus: “Ótimo professor, mas não publicou.”

    O Bem acaba sem recompensa e o único castigo do Mal é nunca acabar.

    Lobo Mau… Isso não é um nome, é uma sentença. Eu não sou intrinsecamente mau. Posso decidir ser mau, ou não. A existência precede a essência, segundo Sartre. É a velha questão, to be or not to be.

    Nos diálogos de Platão o pensamento vivo de Sócrates já se coagulou em filosofia, nos textos bíblicos a verdade poética de Cristo se petrificou em verdades sagradas, irrecorríveis.

    Estou na terceira idade do Homem. Depois da mocidade e da maturidade, a indignidade…

    “Omeros” em grego, descobri agora, quer dizer refém. Homero, como o primeiro escritor do nosso mundo, seria o primeiro prisioneiro da maldita palavra grafada.

    Uma vez imaginei o encontro de Batman e Drácula numa clínica geriátrica, na Suíça. Batman não acredita que Drácula tenha mais de 500 anos. Não lhe daria mais de 200. — Tempo demais — diz Drácula. — Estou na terceira idade do Homem. Depois da mocidade e da maturidade, a indignidade… O cúmulo da indignidade, para o conde, é a dentadura falsa.

    Ideia para uma peça. No palco uma mesa posta para 13 pessoas. Copos, pratos e talheres rústicos, grossas velas toscas e na frente de cada lugar um cartãozinho com o nome de quem deve sentar ali. Ninguém no palco. Da esquerda aparece um mordomo seguido de um casal elegantemente vestido. O casal entra em cena visivelmente inseguro, olhando para todos os lados. O mordomo anuncia que os outros não demorarão a chegar e diz para o casal ficar à vontade. Se quiserem, podem beber água da moringa. O mordomo sai de cena. O casal se entreolha. Ela diz, num cochicho: — Onde nós estamos? Ele, cochichando também: — E eu sei? — Olhe o convite de novo. O homem tira o convite do bolso do smoking e o examina pela décima vez. O convite ainda diz a mesma coisa. — Só a data, a hora, o endereço e, embaixo, “RSVP”. — Esse “RSVP” é que é a chave de tudo. Deve ser as iniciais de alguma coisa. — Mas do quê? — “Reunião dos…” Sei lá. — Podemos estar no jantar errado. — Mas o mordomo viu o convite e nos deixou entrar. — Olhe os cartõezinhos para ver se os nossos nomes estão aí. Ela (lendo): — “João”, “Tiago”, “Pedro”… Ele (lendo): — “Mateus”, “Simão”, “Judas”… — Viu? Nossos nomes não estão aqui. Estamos no lugar errado. — “Jesus”! — Que foi? — Neste cartãozinho. Está escrito “Jesus”! Lentamente, eles se dão conta do que isto significa. Fazem a volta na mesa, um para cada lado, lendo os cartõezinhos outra vez. Se reencontram no meio da mesa. — Aí está — diz ele. — Jesus ao lado de Pedro. Os dois se encaram, de olhos arregalados e boca aberta. Finalmente ele consegue falar. — As letras… — Que letras? — Na cruz. Em cima da cabeça de Jesus Cristo. Não eram… — RSVP! Ele toma uma decisão: — Vamos embora. — Espera. E se a gente ficasse para… — Está maluca? Isto aqui acaba mal. Não vamos nos meter nesta confusão. — Mas… — Olhe, o jantar vai ser horrível, acredite. Só pão ázimo, vinho barato e conv

    Batman não acredita que Drácula tenha mais de 500 anos. Não lhe daria mais de 200.

    Engraçado: ele vai partir para a viagem mais importante, e mais distante, da sua vida, mas não precisa carregar nada. Identidade, passaporte, nada. Nem dinheiro, o que dirá cheques de viagem ou cartões de crédito. Nem carteira! Você diz para o outro: — A coisa mais triste de um defunto são os bolsos. O outro estranha. — Como assim? — Os bolsos existem para ele carregar coisas. Coisas importantes, que definem a sua vida. CPF, licença para dirigir, bloco de notas, caneta, talão de cheques, remédio pra pressão… — Pepsamar. — Pepsamar, cartão perfurado da Sena, recortes de artigos sobre a situação econômica, fio dental…

    Reconheço que não falo com muita clareza, mas definitivamente não, repito não, disse que antes de começar a escrever traçava uns miúdos, o que pode dar a entender que me preparo para o trabalho atacando sexualmente crianças portuguesas. O que eu disse foi que amiúde faço traços no papel, esperando que venha a inspiração.

    O maior mico do mundo Pouco depois de ver o convite para o enterro do Vidigal no jornal e comentar com a mulher “acho que esse Vidigal eu conheci”, Rubens recebeu um telefonema. Da viúva do Vidigal. Enquanto Rubens fazia uma careta de espanto para a mulher, a viúva do Vidigal se identificava, dizia que o Vidigal falava muito nele, e perguntava se podia lhe pedir um favor. — Claro, claro. A viúva então disse que um dos últimos pedidos do Vidigal fora que ele, Rubens, cantasse no seu enterro. — Que eu? — Cantasse no enterro dele. — Mas eu… — Ele disse que você saberia o que cantar. Que era só dizer “aquela música” e você saberia. — Bom, eu… — Posso contar com você? O enterro é às cinco. Depois de saber qual era o pedido da viúva do Vidigal, a mulher do Rubens perguntou, incrédula: — E você disse “sim”?! — O que eu podia dizer? Foi o último pedido do Vidigal! — E que música é essa? — Não me lembro. Mal me lembro do Vidigal! — Mas Rubens, você não sabe cantar. Você desafina no Samba de uma nota só. No Parabéns a você! — Eu sei. Eu sei! — E você vai assim mesmo? — Agora está prometido. No carro a caminho do cemitério, Rubens tentava se lembrar. Qual seria “aquela música”? Se ao menos se lembrasse da época em que andara com o Vidigal. Sabendo a época, localizaria a música. Ou improvisaria uma na hora.Talvez Samba de uma nota só, só a primeira parte? Não, não ficaria bem. Parabéns a você muito menos. Qual era a música? Qual era a música? E Rubens se aproximava do cemitério como um kamikaze se aproximando do alvo. Ela se enganou, pensou Rubens. Ou o Vidigal se enganou. Não era eu que cantava a música. Era outro. Mas quem? Não se lembrava de ninguém cantando, na época em que ele andava com o Vidigal e a turma se reunia no…no… Esquecera até o nome do bar! Ninguém daquela turma cantava. Devia ser outra turma. Era isso. O Vidigal, à beira da morte, confundira as coisas. O cantor era de outra turma. O cemitério cada vez mai

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