"Sai de Odessa com as mais honestas e puras intenções de trabalho. Não era eu natural dessa cidade, mas desde muito ali vivia uma vida medíocre de professor quase sem alunos, vendo alguns rublos com intervalos de longos meses. Nasci em Kazan, onde meu pai tinha uma pequena loja de livros usados, mantendo-se bem mal com os parcos lucros que ela lhe dava.
Aquele contato com os livros desde o meu nascimento, deu-me "fumaças" e a inaptidão do intelectual de origem obscura para o esforço seguido, quando se choca com o meio naturalmente hostil. Não foi assim logo; antes, fiz o meu curso na Faculdade de Línguas Orientais da Universidade da cidade em que nasci, com certo vigor e muito entusiasmo. Aquela sórdida loja de meu pai, porém, foi para mim uma redoma de encantos, que me tirou toda a visão nítida da vida, visão da sua injustiça natural, da sua baixeza imprescindível, do horror da sociedade e da vida.
Anos passei dentro dos meus "indecentes sonhos" de quimeras e justiça e fraternidade, e eles se fizeram tanto mais fortes quanto eu lia a mais não poder, com a fúria de vício, com febre e terríveis anseios. Inutilizei-me.
Acabado o curso, eu não sabia fazer nada e levei alguns anos encostado a meu pais que continuava a ter uma admiração amorosa pelo filho inepto e inapto.
Toda manhã sonhava ir falar com fulano e com beltrano para obter um emprego em que o meu tártaro e o meu persa rendessem dinheiro, mas logo me vinha uma invencível repugnância de pedir, repugnância em que havia delicadeza de incomodá-los e orgulho de fazer-lhes sentir as minhas necessidades.(...)"
Aquele contato com os livros desde o meu nascimento, deu-me "fumaças" e a inaptidão do intelectual de origem obscura para o esforço seguido, quando se choca com o meio naturalmente hostil. Não foi assim logo; antes, fiz o meu curso na Faculdade de Línguas Orientais da Universidade da cidade em que nasci, com certo vigor e muito entusiasmo. Aquela sórdida loja de meu pai, porém, foi para mim uma redoma de encantos, que me tirou toda a visão nítida da vida, visão da sua injustiça natural, da sua baixeza imprescindível, do horror da sociedade e da vida.
Anos passei dentro dos meus "indecentes sonhos" de quimeras e justiça e fraternidade, e eles se fizeram tanto mais fortes quanto eu lia a mais não poder, com a fúria de vício, com febre e terríveis anseios. Inutilizei-me.
Acabado o curso, eu não sabia fazer nada e levei alguns anos encostado a meu pais que continuava a ter uma admiração amorosa pelo filho inepto e inapto.
Toda manhã sonhava ir falar com fulano e com beltrano para obter um emprego em que o meu tártaro e o meu persa rendessem dinheiro, mas logo me vinha uma invencível repugnância de pedir, repugnância em que havia delicadeza de incomodá-los e orgulho de fazer-lhes sentir as minhas necessidades.(...)"