A primeira edição destas Memórias Póstumas de Brás Cubas foi feita
aos pedaços na Revista Brasileira, pelos anos de 1880. Postas mais
tarde em livro, corrigi o texto em vários lugares. Agora que tive de o
rever para a terceira edição, emendei ainda alguma coisa e suprimi
duas ou três dúzias de linhas. Assim composta, sai novamente à luz
esta obra que alguma benevolência parece ter encontrado no público.
Capistrano de Abreu, noticiando a publicação do livro, perguntava:
?As Memórias Póstumas de Brás Cubas são um romance?? Macedo
Soares, em carta que me escreveu por esse tempo, recordava
amigamente as Viagens na minha terra. Ao primeiro respondia já o
defunto Brás Cubas (como o leitor viu e verá no prólogo dele que vai
adiante) que sim e que não, que era romance para uns e não o era
para outros. Quanto ao segundo, assim se explicou o finado: ?Tratase
de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma
livre de um Sterne ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti
algumas rabugens de pessimismo.? Toda essa gente viajou: Xavier de
Maistre à roda do quarto, Garret na terra dele, Sterne na terra dos
outros. De Brás Cubas se pode dizer que viajou à roda da vida.
O que faz do meu Brás Cubas um autor particular é o que ele chama
?rabugens de pessimismo?. Há na alma deste livro, por mais risonho
que pareça, um sentimento amargo e áspero, que está longe de vir
de seus modelos. É taça que pode ter lavores de igual escola, mas
leva outro vinho. Não digo mais para não entrar na crítica de um
defunto, que se pintou a si e a outros, conforme lhe pareceu melhor e
mais certo.
Machado de Assis.
aos pedaços na Revista Brasileira, pelos anos de 1880. Postas mais
tarde em livro, corrigi o texto em vários lugares. Agora que tive de o
rever para a terceira edição, emendei ainda alguma coisa e suprimi
duas ou três dúzias de linhas. Assim composta, sai novamente à luz
esta obra que alguma benevolência parece ter encontrado no público.
Capistrano de Abreu, noticiando a publicação do livro, perguntava:
?As Memórias Póstumas de Brás Cubas são um romance?? Macedo
Soares, em carta que me escreveu por esse tempo, recordava
amigamente as Viagens na minha terra. Ao primeiro respondia já o
defunto Brás Cubas (como o leitor viu e verá no prólogo dele que vai
adiante) que sim e que não, que era romance para uns e não o era
para outros. Quanto ao segundo, assim se explicou o finado: ?Tratase
de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma
livre de um Sterne ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti
algumas rabugens de pessimismo.? Toda essa gente viajou: Xavier de
Maistre à roda do quarto, Garret na terra dele, Sterne na terra dos
outros. De Brás Cubas se pode dizer que viajou à roda da vida.
O que faz do meu Brás Cubas um autor particular é o que ele chama
?rabugens de pessimismo?. Há na alma deste livro, por mais risonho
que pareça, um sentimento amargo e áspero, que está longe de vir
de seus modelos. É taça que pode ter lavores de igual escola, mas
leva outro vinho. Não digo mais para não entrar na crítica de um
defunto, que se pintou a si e a outros, conforme lhe pareceu melhor e
mais certo.
Machado de Assis.