"PERSONAGENS:
PATKULL, gentil-homem da Livônia.
PAIKEL, alquimista.
NAMRY ROMHOR, noiva de Patkull.
BERTHA, namorada de Paikel.
WOLF, pajem.
UM CRIADO
ATO PRIMEIRO
Uma sala em casa de Namry Romhor ? uma porta no fundo ? portas laterais ? mobília da época.
CENA I
NAMRY ROMHOR senta a ao pé de uma mesa e BERTHA
NAMRY ? Que horas são, Bertha?
BERTHA ? Ainda há pouco anoiteceu, minha senhora.
NAMRY ? Ainda há pouco! Pesado e triste corre agora o tempo, como um velho enfermo e lento! (Pausa) Chove?
BERTHA ? Não, minha senhora, não; neva somente. (Che¬gando-se à janela e correndo pouco a cortina) Se quisésseis chegar a esta janela, veríeis que majestoso espetáculo é prolongar os olhos por esta planície, que se estende a perder de vista, toda prateada, e luzindo um pouco com a luz pálida e vacilante da lua... tão belo... que prazer não é ver estes flocos de neve que vêm descendo sobre a terra e lento e lento ! quereis vir, senhora?
NAMRY (Como falando consigo) ? Houve tempo em que a vida também para mim corria fagueira e leve. Minhas noites eram cheias de sonhos de inocência e de ventura... Meus dias tranqüilos e felizes. ? Nada mais desejava ? ou brisa ou tempestade sempre acharam meu coração venturoso e o prazer que se me ria nos lábios! E hoje?!... Quem me dera ver-me longe deste céu tristonho ? destas nuvens carregadas ? desta atmosfera de mau agouro.
BERTHA ? Perdoai, Senhora ? mas eu pensava que em parte nenhuma seria melhor a vida que na terra, em que a provamos. Tem encantos a terra, onde na infância gravamos passos mal seguros ? têm encantos os sítios, que nos recordam dias mais felizes, que todos nós gozamos ? rico ou pobre ? : o céu que nossos olhos primeiro encontraram; o sol que nos afagou no berço, como olho vigilante de mãe; e a língua que nós falamos e que outra língua nunca pode suprir!
NAMRY ? Assim pensei, Bertha, assim pensei, e quem então me dissesse que este seria o meu desejo de hoje, certo que em mim não acharia crédito. Mas eu já tenho sobejos motivos para ser triste, para mais os desejar. Queria alguma coisa que me distraísse! Queria ver essa terra tão antiga, e que mais que as outras, dizem bela, onde reina contínua primavera, onde o céu rutila sempre grande, onde a noite equivale aos nossos dias! Queria ver essa terra! Nápoles, a cidade afortunada, com seu vulcão fumegando noite e dia; com seu golfo tão risonho e pitoresco; Veneza, a cidade de encantos e pro¬dígios, onde de contínuo se escuta ao longe o triste cantar dos gon¬doleiros, e a barca que passa silenciosamente com o seu fanal na proa, e o mascara de traje oriental, que se perde na arcadaria de um palácio inabitado; talvez que então pensasse menos sobre mim, Bertha; e seria ainda uma fortuna."
PATKULL, gentil-homem da Livônia.
PAIKEL, alquimista.
NAMRY ROMHOR, noiva de Patkull.
BERTHA, namorada de Paikel.
WOLF, pajem.
UM CRIADO
ATO PRIMEIRO
Uma sala em casa de Namry Romhor ? uma porta no fundo ? portas laterais ? mobília da época.
CENA I
NAMRY ROMHOR senta a ao pé de uma mesa e BERTHA
NAMRY ? Que horas são, Bertha?
BERTHA ? Ainda há pouco anoiteceu, minha senhora.
NAMRY ? Ainda há pouco! Pesado e triste corre agora o tempo, como um velho enfermo e lento! (Pausa) Chove?
BERTHA ? Não, minha senhora, não; neva somente. (Che¬gando-se à janela e correndo pouco a cortina) Se quisésseis chegar a esta janela, veríeis que majestoso espetáculo é prolongar os olhos por esta planície, que se estende a perder de vista, toda prateada, e luzindo um pouco com a luz pálida e vacilante da lua... tão belo... que prazer não é ver estes flocos de neve que vêm descendo sobre a terra e lento e lento ! quereis vir, senhora?
NAMRY (Como falando consigo) ? Houve tempo em que a vida também para mim corria fagueira e leve. Minhas noites eram cheias de sonhos de inocência e de ventura... Meus dias tranqüilos e felizes. ? Nada mais desejava ? ou brisa ou tempestade sempre acharam meu coração venturoso e o prazer que se me ria nos lábios! E hoje?!... Quem me dera ver-me longe deste céu tristonho ? destas nuvens carregadas ? desta atmosfera de mau agouro.
BERTHA ? Perdoai, Senhora ? mas eu pensava que em parte nenhuma seria melhor a vida que na terra, em que a provamos. Tem encantos a terra, onde na infância gravamos passos mal seguros ? têm encantos os sítios, que nos recordam dias mais felizes, que todos nós gozamos ? rico ou pobre ? : o céu que nossos olhos primeiro encontraram; o sol que nos afagou no berço, como olho vigilante de mãe; e a língua que nós falamos e que outra língua nunca pode suprir!
NAMRY ? Assim pensei, Bertha, assim pensei, e quem então me dissesse que este seria o meu desejo de hoje, certo que em mim não acharia crédito. Mas eu já tenho sobejos motivos para ser triste, para mais os desejar. Queria alguma coisa que me distraísse! Queria ver essa terra tão antiga, e que mais que as outras, dizem bela, onde reina contínua primavera, onde o céu rutila sempre grande, onde a noite equivale aos nossos dias! Queria ver essa terra! Nápoles, a cidade afortunada, com seu vulcão fumegando noite e dia; com seu golfo tão risonho e pitoresco; Veneza, a cidade de encantos e pro¬dígios, onde de contínuo se escuta ao longe o triste cantar dos gon¬doleiros, e a barca que passa silenciosamente com o seu fanal na proa, e o mascara de traje oriental, que se perde na arcadaria de um palácio inabitado; talvez que então pensasse menos sobre mim, Bertha; e seria ainda uma fortuna."