Este não é um trabalho de Literatura Comparada, no sentido em que, aqui, não nos deteremos na riquíssima intertextualidade haroldiana. Esta não é a personagem principal de nosso enfoque, ficaremos apenas naquelas partes de tal trama que são essenciais para o nosso objetivo, qual seja, traçarmos uma correlação entre Lógica, Ontologia e texto literário no poema de Haroldo de Campos ?Poemandala?, de meados da década de 70 do século XX. Também não é um estudo formal intensivo sobre a estrutura da imagem interna suscitada pelo poema, no que tange à psicologia do leitor. Igualmente não é um estudo de características isomórficas comuns ao texto e a peças de arte visual ?realizadas?, seria um tanto ingênuo de nossa parte acreditarmos, sem uma aprofunda análise, que a imaginação tem suas produções estruturadas de forma idêntica à maneira como se configuram criações plásticas visuais externas. A imagem aqui serve como ponto de apoio para a teoria que afirma sua imprescindibilidade para a formação de proposições (modo declarativo da lógica aristotélica), determinação essa que estendemos às enunciações analógicas que, como metáforas que são, estão plenas de iconicidade.
No primeiro capítulo expusemos as condições gerais que levaram à revolução mallarmaica ? um pouco de intertextualidade ? numa época em que a razão esclarecida, ou sua validade junto às vanguardas, estava iniciando sua trajetória de descrédito. Nessa época, o fenômeno urbano parece-nos ter se caracterizado como matriz da justaposição formal utilizada pelas vanguardas em estudo ? o Ideograma mallarmaico-fenollosiano ? não numa relação unidirecional de ?influência ambiental?, mas num processo dialético em que a nova percepção do ambiente urbano poderia ter sido escolhida politicamente como ready-made da forma, paradigma-trapo para a reconstrução de uma enunciação poética ligada a uma nova possibilidade de Experiência (Erfahrung, para usarmos um termo de Walter Benjamin).
Em tal seção tivemos a necessidade de enfrentar o problema de localizar o gancho que nos permitiria abordar a indizibilidade: a falência do modo apofântico de enunciação como possibilidade de fazer poético original, para as estéticas modernistas ? a começar com Baudelaire ?, modo este comprometido, já no século XIX, com a Informação, forma de comunicação a serviço do modo de produção capitalista em sua versão pós-revolução industrial e destruidora da velha Experiência da era da narrativa, forma artesanal de relato. Ora, a Experiência, em nossa concepção, é indissociável de uma comunhão ou indiferenciação de sujeito e mundo objetivo muito própria de visões monistas de universo ? e o Taoísmo é uma de tais visões. A diferença estanque entre sujeito e objeto, como se sabe, é um ingrediente necessário à constituição de formas reducionistas de ciência como foi o cartesianismo e o modelo newtoniano, ambos sendo braços fortes, ou antes, fundamentos, da reviravolta tecnológica que está na base da Revolução Industrial e, sem ser freudiano, do mal-estar na modernidade de Baudelaire, Daumier e outros que viveram a explosão urbana do século XIX.
Na segunda seção, analisamos ?Poemandala?, escolhida por motivos óbvios ? o poema nitidamente taoísta de maior fôlego escrito por Haroldo de Campos ? e expusemos as bases da doutrina do Tao-Te King para, num momento posterior, serem alinhavadas com o conceito de Experiência e o monismo peirceano ? afinal de contas nossa linha de pesquisa calca-se na semiótica. O termo Interpretante-esforço é uma junção da terminologia peirceana com a da Ciência dos Materiais que é um domínio comum da Física e da Engenharia. Não tivemos medo de utilizar tal analogia, por causa de um certo tecnicismo nela latente, pelas próprias características do Estruturalismo-versão-Noigandres, aquele praticado por tal grupo, pelo menos até a década de 60, tanto na fase concretista como na espacial-mallarmaica do movimento. Lembremos todos que isto é um começo.
No primeiro capítulo expusemos as condições gerais que levaram à revolução mallarmaica ? um pouco de intertextualidade ? numa época em que a razão esclarecida, ou sua validade junto às vanguardas, estava iniciando sua trajetória de descrédito. Nessa época, o fenômeno urbano parece-nos ter se caracterizado como matriz da justaposição formal utilizada pelas vanguardas em estudo ? o Ideograma mallarmaico-fenollosiano ? não numa relação unidirecional de ?influência ambiental?, mas num processo dialético em que a nova percepção do ambiente urbano poderia ter sido escolhida politicamente como ready-made da forma, paradigma-trapo para a reconstrução de uma enunciação poética ligada a uma nova possibilidade de Experiência (Erfahrung, para usarmos um termo de Walter Benjamin).
Em tal seção tivemos a necessidade de enfrentar o problema de localizar o gancho que nos permitiria abordar a indizibilidade: a falência do modo apofântico de enunciação como possibilidade de fazer poético original, para as estéticas modernistas ? a começar com Baudelaire ?, modo este comprometido, já no século XIX, com a Informação, forma de comunicação a serviço do modo de produção capitalista em sua versão pós-revolução industrial e destruidora da velha Experiência da era da narrativa, forma artesanal de relato. Ora, a Experiência, em nossa concepção, é indissociável de uma comunhão ou indiferenciação de sujeito e mundo objetivo muito própria de visões monistas de universo ? e o Taoísmo é uma de tais visões. A diferença estanque entre sujeito e objeto, como se sabe, é um ingrediente necessário à constituição de formas reducionistas de ciência como foi o cartesianismo e o modelo newtoniano, ambos sendo braços fortes, ou antes, fundamentos, da reviravolta tecnológica que está na base da Revolução Industrial e, sem ser freudiano, do mal-estar na modernidade de Baudelaire, Daumier e outros que viveram a explosão urbana do século XIX.
Na segunda seção, analisamos ?Poemandala?, escolhida por motivos óbvios ? o poema nitidamente taoísta de maior fôlego escrito por Haroldo de Campos ? e expusemos as bases da doutrina do Tao-Te King para, num momento posterior, serem alinhavadas com o conceito de Experiência e o monismo peirceano ? afinal de contas nossa linha de pesquisa calca-se na semiótica. O termo Interpretante-esforço é uma junção da terminologia peirceana com a da Ciência dos Materiais que é um domínio comum da Física e da Engenharia. Não tivemos medo de utilizar tal analogia, por causa de um certo tecnicismo nela latente, pelas próprias características do Estruturalismo-versão-Noigandres, aquele praticado por tal grupo, pelo menos até a década de 60, tanto na fase concretista como na espacial-mallarmaica do movimento. Lembremos todos que isto é um começo.