Nono lançamento da obra de Fernando Pessoa (Lisboa, 1888-1935) pela Companhia das Letras, Aforismos e afins traz à tona a vertente de exímio frasista do poeta português. Esta edição, que mantém a ortografia portuguesa original, é resultado de um cuidadoso trabalho de estabelecimento de texto, e traz um breve aparato crítico que, embora preparado por um especialista - Richard Zenith -, não se distancia dos interesses do leitor comum.
Pessoa cultivou os aforismos ao longo de sua vida, e neles deixou transparecer toda a sua sagacidade, com a qual, por exemplo, foi capaz de definir algo tão complexo como a filosofia em apenas uma linha: "é a lucidez do intelectual chegando à loucura". Mesmo as frases extraídas de obras consagradas, quando isoladas do contexto, carregam em si múltiplos significados, que transbordam para além de seu intuito original. Parece ser essa a idéia que o poeta expressa, na voz do heterônimo Bernardo Soares, quando diz que "Tudo quanto o homem expõe ou exprime é uma nota à margem de um texto apagado de todo. Mais ou menos, pelo sentido da nota, tiramos o sentido que havia de ser o do texto; mas sempre fica uma dúvida, e os sentidos possíveis são muitos."