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    Autobiografia: o mundo de ontem: Memórias de um europeu

    Por Stefan Zweig
    Existem 14 citações disponíveis para Autobiografia: o mundo de ontem: Memórias de um europeu

    Sobre

    Stefan Zweig em suas próprias palavras, sem mediações ou intérpretes, em um dos melhores perfis que escreveu. Um vívido retrato de seu tempo

    "Só um livro que a cada folha mantém o ritmo e arrebata o leitor até a última página me proporciona um deleite completo", diz Zweig. Este, sem dúvida, é um deles.

    Como austríaco, judeu, escritor, humanista e pacifista, Stefan Zweig esteve sempre onde os incontáveis abalos que atingiram seu tempo foram sentidos de maneira mais violenta.

    Perdeu a Viena de sua juventude para a Primeira Guerra Mundial, a Áustria de sua maturidade para Hitler, a Europa de sempre para a Segunda Guerra. Exilado no Brasil, definitivamente arrancado de tudo o que fora e formara seu mundo, ele faz dessas memórias um retrato lúcido e comovente de uma geração.

    Com sua lucidez habitual e uma dose extra de emoção, Zweig oferece um guia para se entender o presente e perceber os contornos do futuro.

    Inclui prefácio e posfácio de Alberto Dines.
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    Citações de Autobiografia: o mundo de ontem: Memórias de um europeu

    Mais tarde sabemos que a verdadeira trajetória da vida é determinada por uma força interior: por mais que o nosso caminho pareça se desviar sem sentido dos nossos desejos, sempre afinal nos conduz à nossa meta invisível.

    Nessa hora se revelou para mim o mistério eterno de toda grande arte, de toda produção terrestre: concentração, a reunião de todas as forças, de todos os sentidos, o estar fora de si, fora do mundo, que ocorre com cada artista. Eu aprendi algo para o resto da minha vida.

    nove décimos do que o mundo festejava como sendo a cultura vienense do século XIX era uma cultura apoiada, alimentada e até criada pelos judeus vienenses.

    A verdadeira aspiração do judeu, o seu ideal imanente, é a ascensão intelectual para uma camada cultural mais elevada.

    Sabe-se que Viena era uma cidade que gostava de deleitar-se, mas o que é a cultura, senão a forma de obter da matéria grossa da vida com amor e arte o que há de mais fino, mais delicado, mais sutil? Apreciadoras da culinária, preocupadas com um bom vinho, uma cerveja forte e fresca, fartos pratos doces e tortas, as pessoas nessa cidade também eram exigentes em relação a prazeres mais sutis. Fazer música, dançar, fazer teatro, conversar, portar-se com bom gosto e educação, tudo isso era cultivado ali como uma arte especial.

    DEPOIS DE PARIS, Londres foi para mim como quando, num dia muito quente, alguém pisa na sombra: no primeiro instante sente-se um calafrio, mas logo em seguida os olhos e os sentidos se acostumam. De antemão, eu programara dois a três meses, por assim dizer obrigatórios, de Inglaterra, pois como compreender o nosso mundo e valorizá-lo em suas forças sem conhecer o país que durante séculos vem fazendo o mundo andar nos seus trilhos? Também esperava polir o meu inglês enferrujado (que, aliás, nunca se tornou de fato fluente) com muita conversação e animada sociabilidade. Infelizmente, isso não aconteceu; como todos nós do continente, eu tinha poucos contatos literários do outro lado do canal da Mancha, e em todas as conversas de café da manhã e small talks na nossa pequena pensão sobre a corte e as corridas e festas eu me sentia miseravelmente incompetente. Quando discutiam política, eu não conseguia acompanhar, porque falavam de Joe sem que eu soubesse que se referiam a Chamberlain, e chamavam todos os sirs sempre pelo prenome. Para o dialeto dos cocheiros, por outro lado, durante muito tempo foi como se eu tivesse cera nos ouvidos. Assim, não progredi no ritmo esperado. Tentei aprender um pouco de boa dicção nas igrejas, dos padres que pregavam, duas ou três vezes assisti a processos nos tribunais, ia ao teatro para escutar um bom inglês – mas sempre tive que buscar com muito esforço o que em Paris havia em abundância: sociabilidade, camaradagem e alegria. Não encontrei ninguém para discutir as coisas que eu considerava mais importantes; aos bem-intencionados entre os ingleses, eu devia parecer um sujeito muito cru e canhestro com minha indiferença ilimitada em relação a esporte, jogo, política e o que quer que os ocupasse. Em parte nenhuma consegui me inserir em um grupo ou um círculo; assim, passei nove décimos do meu tempo londrino trabalhando no meu quarto ou no Museu Britânico.

    Mas o melhor lugar para aprender todas as novidades era o café. Para compreender isso é preciso saber que o café, em Viena, representa uma instituição especial, sem comparação com nenhuma outra do mundo. Na verdade, é uma espécie de clube democrático, acessível a qualquer pessoa capaz de pagar por uma xícara de café, onde o freguês pode passar horas sentado, discutindo, lendo, jogando cartas, recebendo sua correspondência e, sobretudo, consumindo um número ilimitado de revistas e jornais.

    “Non, je ne quitterai jamais mes amis – não, eu jamais abandonarei os meus amigos.”

    Reconheci meu erro tardiamente: eu devia ter passado esses dois meses londrinos com alguma forma de ocupação, como estagiário em um negócio, como secretário em um jornal, para poder penetrar na vida inglesa pelo menos a espessura de um dedo. Como mero observador externo, vivenciei pouco, e só adquiri uma imagem da verdadeira Inglaterra muitos anos depois, durante a guerra.

    o ar à nossa volta não está morto nem vazio, ele traz em si a vibração e o ritmo da época, imprimindo-os

    O que se perde em relação aos músculos pode ser recuperado; já a ascensão para o intelectual, a força interior da alma, se exercita unicamente naqueles anos decisivos da formação, e só quem aprendeu cedo a abrir as asas da sua alma pode mais tarde abranger o mundo inteiro.

    Ali o homem não era apartado do homem por teorias absurdas de sangue e origem, ali ainda se podia – e isso eu percebi com um estranho pressentimento – viver em paz, ali havia espaço para o futuro em uma abundância incomensurável, enquanto na Europa as nações lutavam e os políticos disputavam os pedaços mais miseráveis. Ali o solo ainda esperava que o homem o aproveitasse e o preenchesse com sua presença. O que a Europa criou em termos de civilização podia continuar a se desenvolver grandiosamente em novas e diferentes formas. Com os olhos deleitados pela beleza multifacetada dessa nova natureza, eu lançara um olhar para o futuro.

    Uma impressão não menos poderosa, uma esperança não menor significou para mim o Brasil, esse país prodigamente presenteado pela natureza com a mais linda cidade do mundo, esse país cujo imenso espaço ainda hoje não pode ser inteiramente percorrido por trens, por estradas e nem mesmo pelos aviões. Ali o passado fora mais cuidadosamente preservado do que na própria Europa, ali o embrutecimento trazido pela Primeira Guerra Mundial ainda não penetrara nos costumes, no espírito das nações. As pessoas conviviam mais em paz, com mais cortesia, a relação mesmo entre as mais diversas raças não era tão hostil como entre nós. Ali o homem não era apartado do homem por teorias absurdas de sangue e origem, ali ainda se podia – e isso eu percebi com um estranho pressentimento – viver em paz, ali havia espaço para o futuro em uma abundância incomensurável, enquanto na Europa as nações lutavam e os políticos disputavam os pedaços mais miseráveis. Ali

    Nada prejudica mais o intelectual do que a falta de resistência; só depois que fiquei sozinho e não tenho mais a juventude à minha volta fui obrigado a rejuvenescer.”

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