Minuciosa reconstituição da trajetória do fundador da religião muçulmana. A autora discute temas de importância atual para o islamismo, como a guerra santa, e sugere que o estudo da vida do Profeta leva a uma compreensão maior da natureza do fenômeno religioso.
Dante Alighieri colocou Maomé no Inferno e Voltaire dizia que o Corão era "o pesadelo da razão". Esses autores encarnam dois momentos de uma longa história de incompreensão entre as maiores tradições culturais da humanidade. Ocidente e Oriente viveram inúmeros momentos de hostilidade recíproca - que não raro se agudizaram até o limite do confronto -, mas Jesus sempre foi considerado parte integrante da religião islâmica, na qualidade de profeta precursor da revelação final.
No século XX, a situação de desconhecimento do Ocidente em relação à religião muçulmana começou a mudar, com o surgimento de biografias como as de Montgomery Watt, Martin Lings e, especialmente, com o estudo de Maxime Rodinson, que destaca a liderança política e militar do Profeta.
Em Maomé - uma biografia do Profeta, Karen Armstrong procura ir além dos autores que a precederam. Ela lembra que, de um ponto de vista histórico, o Profeta do Islão é o mais conhecido dos fundadores das grandes fés e que o estudo da sua vida nos permite compreender melhor a natureza do fenômeno religioso. A experiência espiritual de Maomé, numa caverna do monte Hira, por exemplo, é comparada às visões e aos êxtases de santa Teresa de Ávila.
Armstrong demonstra também que um conhecimento aprofundado dos personagens envolvidos na eclosão da fé muçulmana é essencial para o estabelecimento de relações mais tolerantes e fraternas entre civilizações que, há séculos, vêm se defrontando num conflito interminável.
Esta minuciosa e erudita biografia aborda questões centrais para as decisivas - e às vezes acaloradas - discussões contemporâneas acerca do cenário geopolítico internacional, como a polêmica dos chamados "versículos satânicos" e as diferentes interpretações da jihad. Com esta obra, traduzida inclusive para o árabe, Karen Armstrong dá uma importante contribuição para o reconhecimento de formas mais harmoniosas de convívio entre civilizações - condição que se apresenta imperiosa para o futuro da humanidade.