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    Trecos, troços e coisas: Estudos antropológicos sobre a cultura material

    Por Daniel Miller
    Existem 6 citações disponíveis para Trecos, troços e coisas: Estudos antropológicos sobre a cultura material

    Sobre

    Para um sem-teto em Trinidad, é absolutamente fundamental dispor de dez pares de sapatos; nessa sociedade o ser é definido por aquilo que veste. O elegantíssimo sári manuseado com maestria pelas mulheres indianas não é apenas um índice de status; de tal forma ele se integra à vida feminina que lhe serve de meio de vida e de morte. A generalização do uso de telefones celulares entre as famílias pobres da Jamaica reforça a construção de redes de relações sociais básicas para a sobrevivência cotidiana. Reunindo uma série de ensaios elaborados a partir de pesquisas realizadas em diversas partes do mundo, o antropólogo britânico Daniel Miller afirma que nossos trecos, troços e coisas nos fazem na mesma medida em que são feitos por nós. Ao mesmo tempo em que propõe novos métodos de investigação da cultura material - em diálogo com os clássicos Marshall Sahlins e Mary Douglas -, Miller nos alerta para os riscos de analisar a cultura do outro segundo os valores da nossa própria cultura.
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    Citações de Trecos, troços e coisas: Estudos antropológicos sobre a cultura material

    A conclusão surpreendente é que os objetos são importantes não porque sejam evidentes e fisicamente restrinjam ou habilitem, mas justo o contrário. Muitas vezes, é precisamente porque nós não os vemos. Quanto menos tivermos consciência deles, mais conseguem determinar nossas expectativas, estabelecendo o cenário e assegurando o comportamento apropriado, sem se submeter a questionamentos. Eles determinam o que ocorre à medida que estamos inconscientes da capacidade que têm de fazê-lo.

    A ideia central do estruturalismo era que não deveríamos encarar as entidades isoladamente: uma escrivaninha, uma mesa, uma mesa de jantar, uma mesa de cozinha. Em vez disso, deveríamos começar da relação existente entre as coisas.

    Defino o antropólogo como alguém que busca demonstrar as consequências do universal para o particular e do particular para o universal mediante devoção igual à compreensão e à abrangência empáticas de ambos.

    Trata-se da teoria que dará forma à ideia de que os objetos nos fazem como parte do processo pelo qual os fazemos.

    Na narrativa de Bourdieu, o agente-chave que nos torna característicos de nossa própria sociedade é o treco.

    Em Londres, quando duas pessoas da classe média se encontram, tendem a perguntar “E você, o que faz?”, referindo-se ao emprego. A maioria dos trinitários, porém, considera isso altamente inadequado. Trabalha-se porque é preciso ganhar dinheiro; essa é uma fonte inteiramente errada de autodefinição. Perguntar que trabalho uma pessoa exerce não diz nada significativo sobre ela. São as coisas que a pessoa escolhe livremente que devem defini-la, não as coisas que ela tem de fazer. A liberdade parece central na autoconstrução.

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