O evangelho maltrapilho
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Quando sou honesto, admito que sou um amontoado de paradoxos. Creio e duvido, tenho esperança e sinto-me desencorajado, amo e odeio, sinto-me mal quando me sinto bem, sinto-me culpado por não me sentir culpado. Sou confiante e desconfiado. Honesto e ainda assim insincero.
Em essência, há uma única coisa que Deus pede de nós — que sejamos homens e mulheres de oração, gente que viva perto de Deus, gente para quem Deus seja tudo e para quem Deus seja suficiente. Essa é a raiz da paz. Temos paz quando o Deus gracioso é tudo que buscamos. Quando começamos a buscar qualquer coisa além dele, nós a perdemos.
“A Igreja não é um museu para santos, mas um hospital para pecadores”.
Dito sem rodeios: a igreja evangélica dos nossos dias aceita a graça na teoria, mas nega-a na prática.
A graça nos diz que somos aceitos como estamos. Podemos não ser o tipo de pessoa que desejaríamos, podemos estar muito distantes de nossos objetivos, podemos contar mais fracassos do que realizações, podemos não ser ricos, poderosos ou espirituais, podemos até mesmo não ser felizes, mas somos apesar de tudo aceitos por Deus e seguros nas suas mãos. Essa é a promessa feita a nós em Jesus Cristo, uma promessa na qual podemos confiar”.[7]
“Querido Deus, dê-me a graça do assombro. Surpreenda-me, maravilhe-me, encha-me de assombro em cada pequena fenda do seu universo. Conceda-me o deleite de ver como Jesus Cristo age em dez mil lugares, adorável em mãos e pernas, adorável ao Pai em olhos que não os dele, nas feições dos rostos dos homens. Arrebata-me a cada dia com suas incontáveis maravilhas.
Quanto tempo será necessário até que descubramos que não somos capazes de ofuscar a Deus com nossas realizações? Quando reconheceremos que não precisamos e não temos como comprar o favor de Deus? Quando reconheceremos que não temos de forma alguma os requisitos necessários e aceitaremos alegremente o dom da graça? Quando iremos apreender a empolgante verdade de Paulo: “sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus?” (Gl 2.16).
De forma muito simples, nossa profunda gratidão a Jesus Cristo não é manifestada no ato de sermos castos, honestos, sóbrios e respeitáveis, nem frequentadores de igreja, carregadores de Bíblia e cantores de salmos, mas em nosso profundo e delicado respeito uns pelos outros. Cada adoração de domingo é subordinada à reconciliação com os outros.
“Ore como você consegue; não ore como você não consegue”.
“O sucesso nunca é final; o fracasso nunca é fatal. É a coragem que conta”.
O que faz discípulos autênticos não são visões, êxtases, domínio de capítulos e versículos da Bíblia ou um sucesso espetacular no ministério, mas a capacidade de manter-se fiel.
Do fundo do coração eu oro, nas palavras de Agostinho: “Senhor Jesus, não permitas que eu me deite sem dizer que te amo (…) e protege-me, porque eu poderia hoje te trair”.
O sofrimento, o fracasso, a solidão, o pesar, o desencorajamento e a morte serão parte de nossa jornada, mas o reino de Deus vence todos esses horrores. Nenhum mal pode resistir à graça para sempre.
Viver pela graça significa reconhecer toda a história da minha vida, o lado bom e o ruim. Ao admitir o meu lado escuro, aprendo quem sou e o que a graça de Deus significa. Como colocou Thomas Merton: “Um santo não é alguém bom, mas alguém que experimenta a bondade de Deus”.