O olfato é, realmente, o sentido mais passivo, o mais terrestres, o mais imóvel, o mais imobilizante, aquele que, mais lentamente, mais paciente, mais calmamente aguarda que a realidade imposta se afaste, se apague, para depois sonhar verdadeiramente com ela, para escrever o seu poema! Quando o perfume se torna recordação, a recordação é um perfume. O perfume, com a sua matéria e o seu ideal, poderá integrar-se em ricas e vastas correspondências. Todo esse universo passivo e sorvido enfraquece e esbate-se quando o ato se impõe como um universo. A vida ofendida sucede a vida ofensiva. Então a carne viva é por si só o seu próprio cheiro.
Gaston Bachelard
Gaston Bachelard