Guta a Percha
Título ousado para qualquer livro. Poderia ser original como guta-percha, sinônimo para borracha natural ou o látex extraído das seringueiras. Entretanto, JH Henriques prefere ferir a ortodoxia e lança mão desse argumento para dar nome a um livro de contos. Esse livro é magnífico e traz toda a jovial estrutura dos contos intermediários – de uma era intermediária da criação desse autor. Fragmento de um doa contos: O sol se sabe preso a uma estaca de aroeira. Foi em janeiro do ano bom de Nosso senhor Jesus Cristo, Judas Iscariotes e Pôncio de Pilatos - por ordem de importância -, que o Velho repetia a fórmula epistemológica do repetir. Palavra que não figura nos dorsais curriculares é epistêmica, que aqui é relatada para não retirar o gosto de sal da novela que se conta. De novo é o meio dia que explica a parte de uma invenção. Dividir o dia em duas partes ou ainda mais que isso, tudo depende dos confrontos com a noite, tarefa que fica por conta de mais alucinação do que verdadeira proeza cartesiana. Além do mais, a dor do dia não é a dor das sombras.
Um retrato era o Velho. Veja-se que sempre foi assim: Velho quenta sol sempre que um ruído bole em seu íntimo mais que o sobrepeso do silêncio. Velho e cornija. Pois que se dizia - malfeitor de dizeres como haveria de ser Tristan Shandy, o cavalheiro -, um Velho, horas há, se meia o dia, a ser o exemplo, para cochilar. Isso é direito adquirido, o ressonar e sobrepor imagens, mesmo que esteja vazio de sonhos tudo aquilo que se dorme. As estacas de meio do dia são perenes e não dependem de mais nada, a não ser de suas próprias estigmatizações. Quando um Velho dorme dessa forma, estigmatizado, é sinal de que nele o dia já aprendeu a se parir, por si mesmo e tão somente, de tal sorte que suas metades sofrem de sedes iguais e tal sede , portanto, pode ser aclamada e saciada pelas mesmas águas também iguais. Mesma sede, mesma água.
Repassa a memória um ruminado da ração, que deve a alturas estas dos acontecidos, engrossar-lhe o sangue com leite grosso de mama-cadela. O Velho abre os olhos. Aí sonha com luz. Perpassado está de ventos e chuva em dobras de curvas, tantos são os amanheceres eternos (horas daquelas alvoradas da cor de boi tangerino); gorjeios avessos - coisa... Nessa marcha, a lembrança de um dia que nem foi vivido abre as facas e facões de estradas, o limite entre um aqui e agora e um trânsito desconhecido, um lugar de olho d’água onde se esbarra para beber e a jia está lá, no fundo fresco do oco, a gerir as eternidades e as lendas que um dia polvilharam o mundo com sua capacidade viva de regeneração. As coisas...
Título ousado para qualquer livro. Poderia ser original como guta-percha, sinônimo para borracha natural ou o látex extraído das seringueiras. Entretanto, JH Henriques prefere ferir a ortodoxia e lança mão desse argumento para dar nome a um livro de contos. Esse livro é magnífico e traz toda a jovial estrutura dos contos intermediários – de uma era intermediária da criação desse autor. Fragmento de um doa contos: O sol se sabe preso a uma estaca de aroeira. Foi em janeiro do ano bom de Nosso senhor Jesus Cristo, Judas Iscariotes e Pôncio de Pilatos - por ordem de importância -, que o Velho repetia a fórmula epistemológica do repetir. Palavra que não figura nos dorsais curriculares é epistêmica, que aqui é relatada para não retirar o gosto de sal da novela que se conta. De novo é o meio dia que explica a parte de uma invenção. Dividir o dia em duas partes ou ainda mais que isso, tudo depende dos confrontos com a noite, tarefa que fica por conta de mais alucinação do que verdadeira proeza cartesiana. Além do mais, a dor do dia não é a dor das sombras.
Um retrato era o Velho. Veja-se que sempre foi assim: Velho quenta sol sempre que um ruído bole em seu íntimo mais que o sobrepeso do silêncio. Velho e cornija. Pois que se dizia - malfeitor de dizeres como haveria de ser Tristan Shandy, o cavalheiro -, um Velho, horas há, se meia o dia, a ser o exemplo, para cochilar. Isso é direito adquirido, o ressonar e sobrepor imagens, mesmo que esteja vazio de sonhos tudo aquilo que se dorme. As estacas de meio do dia são perenes e não dependem de mais nada, a não ser de suas próprias estigmatizações. Quando um Velho dorme dessa forma, estigmatizado, é sinal de que nele o dia já aprendeu a se parir, por si mesmo e tão somente, de tal sorte que suas metades sofrem de sedes iguais e tal sede , portanto, pode ser aclamada e saciada pelas mesmas águas também iguais. Mesma sede, mesma água.
Repassa a memória um ruminado da ração, que deve a alturas estas dos acontecidos, engrossar-lhe o sangue com leite grosso de mama-cadela. O Velho abre os olhos. Aí sonha com luz. Perpassado está de ventos e chuva em dobras de curvas, tantos são os amanheceres eternos (horas daquelas alvoradas da cor de boi tangerino); gorjeios avessos - coisa... Nessa marcha, a lembrança de um dia que nem foi vivido abre as facas e facões de estradas, o limite entre um aqui e agora e um trânsito desconhecido, um lugar de olho d’água onde se esbarra para beber e a jia está lá, no fundo fresco do oco, a gerir as eternidades e as lendas que um dia polvilharam o mundo com sua capacidade viva de regeneração. As coisas...