Corgo do Vento
Trata-se de obra-prima. Aqui nesse romance escrito, ao que parece, de um fôlego apenas, JH Henriques volta a passear pelo estado de Goiás, ali pelas imediações de Itapuranga. Esse romance é bem humorado, porquanto seja um texto muito elaborado do ponto de vista introspectivo. Trata de uma personagem solitária que zanza por aí em busca de afirmação de sua banda afetiva. Um fragmento do romance: Era o mês de maio e o rompante da terra era somente de luz para tudo quanto era banda. Em maio o azul do céu explode numa grandeza sem esquadros. Eu tinha acabado de sair da baixada do Corgo do Vento e vinha subindo o aclive suave que me levava ao rumo daqueles baguaçus grandes que ninguém tinha se lembrado de plantar, porém, eles estavam ali, à revelia de muitos olhos e muita dádiva. A gente até se esquecia de pautar alguma coisa a mais com respeito aos baguaçus porque eles eram reis numa terra de liberdades. Para dizer mesmo a verdade, eu vinha distraído como bicho novo, desses que não sabem se tem onça no mundo, o seu comportamento é muito distinto de um sossego pueril.
A estrada ali subia com envolvimento de cascalho. A batida firme e castanha da terra estragada com cascalhama. Eu ia pensando em quase nada, a não ser pensamento que me vinha, de uma goiaba madura que pudesse ser estalada do dente, se agachada ali, das que surgem no temporão do ato. Doce com o pomo atravessado na goela de um desejo. Eu falava comigo mesmo. Coisa mais afinada é a solidão que permite conversa com a copa dos baguaçus. Eu dizia. Falta muito pouco para eu ser feliz. Para falar mesmo a verdade, o que falta é quase nada. Falta muita pouca coisa. O que eu queria era agradecer aos Céus por estar vivo e sadio. Não é o mês de maio que tem dessas considerações brandas com a alma da gente? Maio é o aviso que o ano nem devia ter meio. Eu também pensava nisso. Um anu branco passava em voo torto e piado de pinto. Estava, a falar mesmo o sumo da verdade, muito distraído com a economia de tempo que surge das sobras de dia. Tem hora que a gente consegue cantar sem saber a canção. Quando não se tem muito a fazer, o tempo surge da mansidão das horas, vai expurgando minuto por aí, faz nuvem de nada dos ares. Eu podia ver através do pensamento de mosquitos vagos, desses que beiram bosta de vaca e zunem em torno da gente quando nos confundem com a massa.
Aquela baixada que mostrava as lisuras da vargem lá embaixo era mesmo a Baixada do Corgo do Vento. A minha alma tinha participação de muito conhecimento, intimidade farta, com aquele mundo de baixada do corgo. Se eu seguisse avante, ia sair na Tarumã, um lugar conformado de muita preciosidade, cheio de riquezas das terras e das construções com telhado firme e tijolos. Naquele ponto de cidade, devagar e muito firme o progresso ia assumindo dilatações de vida. Ampliava-se a modernidade. Mas a Tarumã era lugar somente de nome e grandeza, eu mesmo nunca tinha ido lá. O que eu sabia era de informação e de escutar o que era falado. Nem tinha certeza de que existisse um lugar assim sobre o mundo. Cada vez que o sujeito vai num lugar assim, acaba encontrando uma rua mais espaçosa. O que eu sabia, no porém, de topo tipo de acontecimento, eram das singelezas dali, das beiradas todas do corgo do Vento. Aí sim, eu podia traduzir sem medo de errar quando um passupreto-soldado cantava sem dó de economias. E o lugar inteiro era Ventania, justamente por conta dessas reviravoltas de ares que dão alento ao cisco quando ele sobe no mês de agosto, ágil, agitado pelos redemoinhos de tempo. Nome bonito demais. Esse nome de Ventania faz cócegas no entendimento da gente. Além disso, se voltasse a cara para trás, a estrada ia levar na Itapuranga, a cidade com seus lugares de interesse e um comércio até que bem avantajado. Aí sim, iam dizer que na Itapuranga tem de tudo, tem até memória de balcõese cinemas módicos de um tempo quase esquecido. Só que não esquece de lugar como a Itapuranga porque lá
Trata-se de obra-prima. Aqui nesse romance escrito, ao que parece, de um fôlego apenas, JH Henriques volta a passear pelo estado de Goiás, ali pelas imediações de Itapuranga. Esse romance é bem humorado, porquanto seja um texto muito elaborado do ponto de vista introspectivo. Trata de uma personagem solitária que zanza por aí em busca de afirmação de sua banda afetiva. Um fragmento do romance: Era o mês de maio e o rompante da terra era somente de luz para tudo quanto era banda. Em maio o azul do céu explode numa grandeza sem esquadros. Eu tinha acabado de sair da baixada do Corgo do Vento e vinha subindo o aclive suave que me levava ao rumo daqueles baguaçus grandes que ninguém tinha se lembrado de plantar, porém, eles estavam ali, à revelia de muitos olhos e muita dádiva. A gente até se esquecia de pautar alguma coisa a mais com respeito aos baguaçus porque eles eram reis numa terra de liberdades. Para dizer mesmo a verdade, eu vinha distraído como bicho novo, desses que não sabem se tem onça no mundo, o seu comportamento é muito distinto de um sossego pueril.
A estrada ali subia com envolvimento de cascalho. A batida firme e castanha da terra estragada com cascalhama. Eu ia pensando em quase nada, a não ser pensamento que me vinha, de uma goiaba madura que pudesse ser estalada do dente, se agachada ali, das que surgem no temporão do ato. Doce com o pomo atravessado na goela de um desejo. Eu falava comigo mesmo. Coisa mais afinada é a solidão que permite conversa com a copa dos baguaçus. Eu dizia. Falta muito pouco para eu ser feliz. Para falar mesmo a verdade, o que falta é quase nada. Falta muita pouca coisa. O que eu queria era agradecer aos Céus por estar vivo e sadio. Não é o mês de maio que tem dessas considerações brandas com a alma da gente? Maio é o aviso que o ano nem devia ter meio. Eu também pensava nisso. Um anu branco passava em voo torto e piado de pinto. Estava, a falar mesmo o sumo da verdade, muito distraído com a economia de tempo que surge das sobras de dia. Tem hora que a gente consegue cantar sem saber a canção. Quando não se tem muito a fazer, o tempo surge da mansidão das horas, vai expurgando minuto por aí, faz nuvem de nada dos ares. Eu podia ver através do pensamento de mosquitos vagos, desses que beiram bosta de vaca e zunem em torno da gente quando nos confundem com a massa.
Aquela baixada que mostrava as lisuras da vargem lá embaixo era mesmo a Baixada do Corgo do Vento. A minha alma tinha participação de muito conhecimento, intimidade farta, com aquele mundo de baixada do corgo. Se eu seguisse avante, ia sair na Tarumã, um lugar conformado de muita preciosidade, cheio de riquezas das terras e das construções com telhado firme e tijolos. Naquele ponto de cidade, devagar e muito firme o progresso ia assumindo dilatações de vida. Ampliava-se a modernidade. Mas a Tarumã era lugar somente de nome e grandeza, eu mesmo nunca tinha ido lá. O que eu sabia era de informação e de escutar o que era falado. Nem tinha certeza de que existisse um lugar assim sobre o mundo. Cada vez que o sujeito vai num lugar assim, acaba encontrando uma rua mais espaçosa. O que eu sabia, no porém, de topo tipo de acontecimento, eram das singelezas dali, das beiradas todas do corgo do Vento. Aí sim, eu podia traduzir sem medo de errar quando um passupreto-soldado cantava sem dó de economias. E o lugar inteiro era Ventania, justamente por conta dessas reviravoltas de ares que dão alento ao cisco quando ele sobe no mês de agosto, ágil, agitado pelos redemoinhos de tempo. Nome bonito demais. Esse nome de Ventania faz cócegas no entendimento da gente. Além disso, se voltasse a cara para trás, a estrada ia levar na Itapuranga, a cidade com seus lugares de interesse e um comércio até que bem avantajado. Aí sim, iam dizer que na Itapuranga tem de tudo, tem até memória de balcõese cinemas módicos de um tempo quase esquecido. Só que não esquece de lugar como a Itapuranga porque lá