Nota Prévia
Hugo Laurentz Crane nasceu em 1959, no Porto, de pai americano e de mãe portuguesa. Iniciou estudos em engenharia civil que nunca chegou a terminar.
Caindo na dependência de drogas duras, veio a falecer de cancro, em 1992, também no Porto, com apenas 33 anos.
Em 2012, o pintor Artur Bolt, de quem Crane era grande amigo, fez publicar a obra Devaneios de um fumador de haxixe, em que se expressam facetas diversas da personalidade do poeta. Foi também A. Bolt quem escreveu o posfácio da obra em questão.
Os presentes textos, que dão voz às vicissitudes do Vício, constituem o quarto tomo da Antologia Vozes que a noite sepultou, e são a continuação dos de Devaneios de um fumador de haxixe que não foram incluídos nessa edição.
G. A. P., 2011
Viajar tateando
Fui um dia até ao país da angústia – uma espécie de China tremulante cheia de castelos e areias a perder de vista. Desertos e mais desertos! (Uma viagem penosa na verdade. Pés e coração cobriram-me o rosto com perdigotos de tanto se queixarem.)
Não encontrei lá nada de relevante. Quem fala de noite profunda, de trevas opacas e outras fanfarronices, apenas o faz para brilhar, para se tornar interessante.
A única coisa que me lá aconteceu – além de uma tempestade de tédio que me encharcou dos pés à cabeça – foi uma negra flor de chuva ácida que me perfurou a língua.
A partir daí, mudei-me para o outro lado da luz, escondendo-me nas suas costas.
Hugo Laurentz Crane nasceu em 1959, no Porto, de pai americano e de mãe portuguesa. Iniciou estudos em engenharia civil que nunca chegou a terminar.
Caindo na dependência de drogas duras, veio a falecer de cancro, em 1992, também no Porto, com apenas 33 anos.
Em 2012, o pintor Artur Bolt, de quem Crane era grande amigo, fez publicar a obra Devaneios de um fumador de haxixe, em que se expressam facetas diversas da personalidade do poeta. Foi também A. Bolt quem escreveu o posfácio da obra em questão.
Os presentes textos, que dão voz às vicissitudes do Vício, constituem o quarto tomo da Antologia Vozes que a noite sepultou, e são a continuação dos de Devaneios de um fumador de haxixe que não foram incluídos nessa edição.
G. A. P., 2011
Viajar tateando
Fui um dia até ao país da angústia – uma espécie de China tremulante cheia de castelos e areias a perder de vista. Desertos e mais desertos! (Uma viagem penosa na verdade. Pés e coração cobriram-me o rosto com perdigotos de tanto se queixarem.)
Não encontrei lá nada de relevante. Quem fala de noite profunda, de trevas opacas e outras fanfarronices, apenas o faz para brilhar, para se tornar interessante.
A única coisa que me lá aconteceu – além de uma tempestade de tédio que me encharcou dos pés à cabeça – foi uma negra flor de chuva ácida que me perfurou a língua.
A partir daí, mudei-me para o outro lado da luz, escondendo-me nas suas costas.