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    A correspondência de Fradique Mendes

    Por Eça de Queirós
    Existem 13 citações disponíveis para A correspondência de Fradique Mendes

    Sobre

    A correspondência de Fradique Mendes
    Eça de Queirós, um dos mais importantes escritores lusos (1845-1900)

    Este livro apresenta «A correspondência de Fradique Mendes», de Eça de Queirós.

    Índice interativo:
    - Apresentação
    - A Correspondência De Fradique Mendes
    - As Cartas
    - Carta I.ao Visconde De A.-t
    - Carta Ii.a Madame De Jouarre
    - Carta Iii .a Oliveira Martins
    - Carta Iv.a Madame S
    - Carta V.a Guerra Junqueiro
    - Carta Vi.a Ramalho Ortigão
    - Carta Vii.a Madame De Joujarre
    - Carta Viii.ao Snr. E. Mollinet
    - Carta Ix.a Clara
    - Carta X.a Madame De Jouarre
    - Carta Xi.a Mr. Bertrand B
    - Carta Xii.a Madame De Jouarre
    - Carta Xiii.a Clara
    - Carta Xiv.a Madame De Jouarre
    - Carta Xv.a Bento De S
    - Carta Xvi.a Clara
    - Notas
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    Citações de A correspondência de Fradique Mendes

    Um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra: – todas as outras as deve falar mal, orgulhosamente mal, com aquele acento chato e falso que denuncia logo o estrangeiro. Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade; – e quem for possuindo com crescente perfeição os idiomas da Europa vai gradualmente sofrendo uma desnacionalização.

    Mas além disso Fradique Mendes trabalhava um outro filão poético que me seduzia – o da Modernidade, a notação fina e sóbria das graças e dos horrores da Vida, da Vida ambiente e costumada, tal como a podemos testemunhar ou pressentir nas ruas que todos trilhamos, nas moradas vizinhas das nossas, nos humildes destinos deslizando em torno de nós por penumbras humildes.

    «Os homens nasceram para trabalhar, as mulheres para chorar, e nós, os fortes, para passar friamente através!…»

    A sua máxima para com os pobres (a quem os economistas afirmam que se não deve caridade mas justiça) – era «que à hora das comidas mais vale um pataco na mão que duas filosofias a voar».

    «alguma coisa de cristalino, de aveludado, de ondeante, de marmóreo, que só por si, plasticamente, realizasse uma absoluta beleza – e que expressionalmente, como verbo, tudo pudesse traduzir desde os mais fugidios tons de luz até os mais subtis estados de alma…»

    As irresistíveis correntes de ideias, de sentimentos, de interesses, trabalham por baixo dele, em torno dele: e parecendo dirigi-las, pelo muito que braceja e ronca de alto, é na realidade por elas arrastado. Assim um omnipotente do tipo Bismarck vai por vezes em aparência no cimo das grandes coisas; – mas como a boia solta vai no cimo da torrente. Miserável omnipotência! E o sentimento desta miséria não pode deixar de influenciar a fisionomia dos nossos poderosos dando-lhe esse feitio contrafeito, crispado, torturado, azedado e sobretudo amolgado que se nota na cara de Napoleão, do Czar, de Bismarck, de todos os que reúnem a maior soma de poder contemporâneo – o feitio amolgado de uma coisa que rola aos encontrões, batendo contra muralhas.

    esse ar de imperturbada e indomável força;

    A sua primeira educação fora singularmente emaranhada: o capelão de D. Angelina, antigo frade beneditino, ensinou-lhe o latim, a doutrina, o horror à maçonaria, e outros princípios sólidos; depois um coronel francês, duro jacobino que se batera em 1830 na barricada de Saint-Merry, veio abalar estes alicerces espirituais fazendo traduzir ao rapaz a Pucelle de Voltaire e a Declaração dos Direitos do Homem; e finalmente um alemão, que ajudava D. Angelina a enfardelar Klopstock na vernaculidade de Filinto Elísio, e se dizia parente de Emanuel Kant, completou a confusão iniciando Carlos, ainda antes de lhe nascer o buço, na Crítica da Razão Pura e na heterodoxia metafísica dos professores de Tubingen. Felizmente Carlos já então gastava longos dias a cavalo pelos campos, com a sua matilha de galgos: – e da anemia que lhe teriam causado as abstrações do raciocínio, salvou-o o sopro fresco dos montados e a natural pureza dos regatos em que bebia.

    apagado de ideias e de modos – mas que despertava e se iluminava todo quando lograva «a chance (como ele dizia) de roçar por um homem célebre, ou de arranchar numa coisa original»; e isto tornara-o a ele, pouco a pouco, quase original e quase célebre.

    Alguns anos passaram. Trabalhei, viajei. Melhor fui conhecendo os homens e a realidade das coisas, perdi a idolatria da Forma, não tomei a ler Baudelaire.

    saíra do Quartier Latin a começar uma existência soberba e fogosa. Com um ímpeto de ave solta, viajara logo por todo o mundo, a todos os sopros do vento, desde Chicago até Jerusalém, desde a Islândia até ao Sara. Nestas jornadas, sempre empreendidas por uma solicitação da inteligência ou por ânsia de emoções, achara-se envolvido em feitos históricos e tratara altas personalidades do século.

    agora apaziguado e tratável, ele derrama uma doçura, uma pacificação que penetra na alma, a torna também pacífica e doce, e cria esse momento raro em que céu e alma fraternizam e se entendem.

    Até para manter em estabilidade e solidez a ordem de uma nação, não há mais prestadio cidadão do que este Pinho, com a sua placidez de hábitos, o seu fácil assentimento a todos os feitios da coisa pública, a sua conta do banco verificada às sextas-feiras, os seus prazeres colhidos em higiénico recato, a sua reticência, a sua inércia. De um Pinho nunca pode sair ideia ou ato, afirmação ou negação, que desmanche a paz do Estado. Assim gordo e quieto, colado sobre o organismo social, não concorrendo para o seu movimento, mas não o contrariando também, Pinho apresenta todos os carateres de uma excrescência sebácea. Socialmente, Pinho é um lobinho. Ora nada mais inofensivo que um lobinho: e nos nossos tempos, em que o Estado está cheio de elementos mórbidos, que o parasitam, o sugam, o infecionam e o sobre-excitam, esta inofensibilidade de Pinho pode mesmo (em relação aos interesses da ordem) ser considerada como qualidade meritória.

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