A ditadura encurralada
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A pirotecnia do movimento estudantil amedrontava a ditadura, incapaz de ver nele uma nova manifestação do velho camaleonismo da elite brasileira, mestra na percepção da hora de separar-se das formações políticas decadentes.
“Sociedade civil” era uma expressão mágica, saída do acervo dos conceitos hegelianos e reciclada no Brasil pela divulgação da obra do filósofo comunista italiano Antonio Gramsci. No seu significado clássico, designava o conjunto de forças políticas e sociais sem ligação orgânica com a máquina do Estado. No significado presente, encarnava um truque retórico. Surgia um ente que, por civil, não era militar e, por representar a sociedade, também não era partidário.
Esses sinais contraditórios refletiam o tipo de controle que Geisel procurava manter sobre o processo político. Colocando-se na posição de árbitro do gradualismo, estava a um só tempo descomprimindo o processo e cristalizando na sua vontade o arbítrio da ditadura. Queria a distensão, desde que tivesse a prerrogativa de dizer qual, como e quando. Queria menos ditadura tornando-se mais ditador.
Nesse episódio o general Sylvio Frota marcou uma posição que haveria de caracterizar sua presença no governo: tornara-se patrono do porão.
Na praça da Sé, naquela tarde de 31 de outubro de 1975, a oposição brasileira passou a encarnar a ordem e a decência. A ditadura, com sua “tigrada” e seu aparato policial, revelara-se um anacronismo que procurava na anarquia um pretexto para a própria reafirmação.
Mapeava a história do Brasil como uma sucessão de períodos em que se alternaram regimes centralizadores e regimes descentralizadores. Coisa simples: o poder nacional contraíra-se no Império, irradiara-se na República Velha, voltara a se contrair no Estado Novo e a irradiar-se na redemocratização de 1945. Em 1977, vivia-se o ocaso da sístole iniciada em 1964, prenunciando-se a diástole da redemocratização.9
Simonsen, na sua extroversão, divertia-se com as maledicências que o perseguiam: “O poder é tão embriagador que passei a considerar o uísque supérfluo”.