AO LEITOR. Esta primeira Egloga, ha 16 annos impressa, agora faäo-a reimprimir, para tirar-lhe as lisongeiras Cartas, para emendar-lhe algumas passagens com melhor escolha, para curar-lhe alguns vicios gerados por aquelles, que duas vezes a reimprimêrào, a pezar do meu gosto, e para ligar ambas as Partes, por que a primeira dÞ a materia para a segunda. Se me increparem, porque faäo domavel o Gigante Polyfemo, contra a opiniào dos melhores Poetas, respondo: He verdade, que a Fabula nos mostra este Cyclope hum monstro de crueldade, de extraordinarias foräas, e destemido: hum tragador de seis companheiros de Ulysses, e delle mesmo o seria, se astucioso nào lhe fugisse: hum soberbo em fim, que declamava, que nem ao mesmo Jupiter temia; mas pergunto: Este Gigante era humano, ou nào? Todos me dirào, que sim. Pois se era humano, era sugeito ao imperio da Razào, com cujas armas o ataco, e o venäo: e sï seria inverosimil, se eu com a razào accommettesse hum Tigre, hum Leào, huma Serpente. Se os mais nào pizÞrào esta estrada, porque nào quizerào, pizo-a eu, porque quero, e por que posso, sem atropelar a verosimilhanäa. Se altero o caracter da Egloga; se me aparto da simplicidade pastoril; se faäo inflammar Polyfemo, e respirar vinganäa, he porque eu nào pinto hum daquelles Pastores do Seculo de oiro, em que reinava a mansidào, e o socego de espirito; pinto hum Cyclope, hum Pastor ferino, que abrazado no ciume, e na ira, deo barbara morte ao mancebo ¿cis, lanäando-lhe em cima hum penhasco: catÞstrofe, que eu nào pinto, por nào fazer huma Egloga com espirito de Tragedia. Eu tive a fortuna, de que alguns homens (discrætos homens!) dissessem, que nào era minha a minha Egloga Deploratoria intitulada JOSINO na chorada morte do Principe o Senhor D. JOSÇ. Eu serei feliz, se agora tiver a mesma fortuna, porque se esses contrastes duvidarem de ser minha esta obra, boa serÞ ella pela sua avaliaäào. Esses, que duvidào, examinem, busquem, descubrào o legitimo, e o mostrem para gloria sua, e descredito meu. Conheäa o mundo o homem virtuoso, o homem raro, que se canäou naquella composiäào, para renunciar em mim a posse, o lucro, e o credito della. E se eu a furtei, onde estÞs homem roubado, que nào acodes ao teu cabedal, sabendo, que em meu poder existe? Denuncêa-me; clama justiäa contra mim. Ah! Ninguem falla? Ninguem me acusa? Pois acuso-me eu, mas he da temeridade de emprehender a guerra sem ter armas: de querer lugar na Ræpublica das Letras sem ser Cidadào de Athenas: de fazer Versos sem beber da CastÞlia, sem soccorro das Musas, sem conhecer Apollo. Os Versos (toscos Versos) que ha trinta annos escrevo, sào os denunciantes, as testemunhas, e os Juizes do meu crime. Acusem-me, como eu me acuso deste delicto; poræm nào de roubador, officio imfame, que nào cabe em almas honradas; mas se os crêticos me arguirem pelos pobres, insulsos Versos, devem igualmente attender em minha defensa, que estes se nào tem mel, tambem nào tem veneno; se nào deleitào, tambem nào ferem. Isto supposto, faäào-me Justiäa
A Guerra: Depoimentos de Herejes
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