A guerra do fim do mundo
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Sua cegueira intelectual não lhe permitia perceber que esses irmãos, com instinto certeiro, dirigiram sua rebeldia contra o inimigo nato da liberdade: o poder. E qual é o poder que os oprime, que lhes nega o direito à terra, à cultura, à igualdade? Por acaso não é a República? E o fato de estarem armados para combatê-la mostra que também acertaram no método, o único que os explorados têm para romper seus grilhões: a força.
Não é notável que um grupo de insurretos forme no fundo do Brasil uma sociedade em que foram abolidos o casamento, o dinheiro, e na qual a propriedade coletiva substituiu a privada?
O ódio, tal como o desejo, anula a inteligência e faz do homem puro instinto.
A guerra do fim do mundo [recurso eletrônico] / Mario Vargas Llosa
(em todo caso, vítima, pois, como explicou Bakunin, a sociedade prepara os crimes e os criminosos são apenas os instrumentos para executá-los).
Pelo sertão correu a notícia de que nesse lugar, cercado de morros pedregosos, chamado de Canudos por causa dos cachimbos de caniço que o povo do lugar fumava no passado, o santo que tinha peregrinado mundo afora durante um quarto de século estava instalado agora. O local era conhecido pelos boiadeiros, pois os rebanhos costumavam pernoitar às margens do Vaza-Barris.
Anticristo estava no mundo e se chamava República.
Depois de tomar-lhes o juramento de que não eram republicanos, não aceitavam a expulsão do imperador, a separação entre Igreja e Estado, o casamento civil, os novos pesos e medidas, nem as perguntas do censo, abraçou-os e mandou-os com alguém da Guarda Católica à casa de Antônio Vilanova. Na porta, a mulher ainda murmurou alguma coisa no ouvido do cego. Este,
Portanto, o governo e o Congresso oficializam a tese da conspiração — interrompeu Adalberto de Gumúcio. — Isto é, os fanáticos sebastianistas querem restaurar o Império com a ajuda do conde D’Eu, dos monarquistas, da Inglaterra e, naturalmente, do Partido Autonomista da Bahia. Todas as invencionices estúpidas da ralé jacobina transformadas na verdade oficial da República.
Assim como outras crianças crescem entre contos de fadas, ele cresceu ouvindo que a propriedade é a origem de todos os males sociais e que os pobres só podem romper os grilhões da exploração e do obscurantismo por meio da violência.