Assim as coisas se passaram, até que, no dia seguinte ao funeral, mais ou menos pelas três horas de uma tarde de geada, fria e nevoenta, eu parei à porta por um momento, cheio de pensamentos tristes sobre meu pai, quando vi alguém que se aproximava lentamente pela estrada. Estava claro que o homem era cego, porque ele batia no chão à sua frente com uma bengala e usava um grande lenço verde sobre os olhos e o nariz; ele andava curvado, pela idade ou por fraqueza; e usava uma velha capa de marinheiro esfarrapada, com um capuz atrás, o que lhe atribuía um aspecto positivamente deformado. Em toda a minha vida, eu nunca vi outra pessoa com um aspecto mais pavoroso. Ele parou a uma certa distância da estalagem e, erguendo sua voz de uma estranha maneira meio cantada, dirigiu-se ao ar em frente dele: – Será que algum bom amigo poderá informar a um pobre cego que perdeu a preciosa visão de seu olhos na honrosa defesa de seu país natal, a Inglaterra, e que Deus abençoe o Rei George! – onde ou em que parte deste país ele pode se encontrar agora? – Você está em frente à estalagem “Almirante Benbow”, na enseada de Black Hill, meu bom homem – disse eu. – Eu ouço uma voz – disse ele. – Escuto uma voz jovem. Quer dar-me sua mão, meu jovem e gentil amigo, a fim de guiar-me? Eu estendi-lhe a mão; e a criatura horrível, de voz macia e sem olhos, agarrou-a no mesmo momento, como se fosse um torno. Eu fiquei tão espantado, que comecei a lutar para retirar a mão; porém, o cego puxou-me para perto dele com um único movimento de seu braço. – Agora, menino – disse ele –, leve-me até onde está o Capitão. – Senhor – disse eu –, eu não ousaria! – Ora – zombou ele. – Então não tem coragem? Pois leve-me direto a ele, senão quebro-lhe o braço. E, enquanto falava, ele o torceu de tal forma, que me fez gritar. – Senhor – disse eu –, é por sua causa que eu falei. O Capitão não se acha em seu perfeito estado. Ele fica sentado com um cutelo desembainhado em cima da me