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    A jangada de pedra

    Por José Saramago
    Existem 12 citações disponíveis para A jangada de pedra

    Sobre

    Racham os Pirineus, a Península Ibérica se desgarra da Europa. Transformada em ilha - Jangada de Pedra -, navega à deriva pelo oceano Atlântico.A esse espetacular acidente geológico somam-se outros insólitos que unem os quatro personagens principais do romance numa viagem apocalíptica e utópica pelos caminhos da linguagem e, por meio dela, pelos da arte e da cultura peninsulares.A ínsula ibérica vagueia ao acaso de um mar tecido de muitos mitos e história.A história dos povos ibéricos, José Saramago a conta e reconta pela memória de um narrador, múltiplo de si mesmo e dos personagens cujas andanças acompanha. Os mitos se costuram nas pedras da fratura de que se fez a jangada. Neles se recuperam as crônicas, peregrinações de heróis anônimos ou notórios da identidade ibérica, todos notáveis, D. Quixote entre uns, os peregrinos de Santiago de Compostela na Idade Média entre outros. Narrativa perfeita na qual os fantasmas do inconsciente pousam familiarmente no cotidiano; surrealismo vigoroso que torna o incomum realidade, criando as condições oníricas para virar o mundo às avessas e, então, contar-lhe, com ironia e graça, os transtornos de erros e acertos, de enganos e desenganos. Posto assim ao contrário de si mesmo e de suas aparentes e reais firmezas, o mundo abre-se para a aventura ficcional da desconstrução das certezas das palavras e dos objetos; deixa-se viajar no estranhamento que daí decorre; reencontra-se em signos velhos e cristalizados: signos novos contudo, nos enigmas em que se tornam, reveladores também nas fantásticas soluções narrativas que desencadeiam.
    Carlos Vogt

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    Citações de A jangada de pedra

    Não há consolação, amigo triste, o homem é um animal inconsolável.

    certos pensamentos nossos são assim, servem apenas para ocuparem, por antecipação, o lugar de outros que dariam mais que pensar.

    Mas este cão não é um rafeiro qualquer, de paternidade suspeita ou clandestina, a sua árvore genealógica tem raízes no inferno, que, como sabemos, é o lugar aonde vai dar toda a sabedoria, a antiga que já lá está, a moderna e a futura que hão-de seguir o mesmo caminho.

    para que as coisas existam duas condições são necessárias, que homem as veja e homem lhes ponha nome.

    Quem não viu Lisboa não viu coisa boa, bendito seja Deus que nos deu as rimas e não nos retirou os arrimos.

    Se um dia tiveres um filho, ele morrerá porque tu nasceste, desse crime ninguém te absolverá, as mãos que fazem e tecem são as mesmas que desfazem e destecem, o certo gera o errado, o errado produz o certo, Fraca consolação para um aflito, Não há consolação, amigo triste, o homem é um animal inconsolável.

    as vidas não começam quando as pessoas nascem, se assim fosse, cada dia era um dia ganho, as vidas principiam mais tarde, quantas vezes tarde de mais, para não falar daquelas que mal tendo começado já se acabaram, por isso é que o outro gritou, Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido.

    aqui o que se ouve é o silêncio, ninguém deveria morrer antes de conhecê-lo, o silêncio, ouviste-o, podes ir, já sabes como é.

    Quantas vezes, para mudar a vida, precisamos da vida inteira, pensamos tanto, tomamos balanço e hesitamos, depois voltamos ao princípio, tornamos a pensar e a pensar, deslocamo-nos nas calhas do tempo com um movimento circular, como os espojinhos que atravessam o campo levantando poeira, folhas secas, insignificâncias, que para mais não lhes chegam as forças, bem melhor seria vivermos em terra de tufões.

    então concluiremos que uma palavra, quando dita, dura mais que o som e os sons que a formaram, fica por aí, invisível e inaudível para poder guardar o seu próprio segredo, uma espécie de semente oculta debaixo da terra, que germina longe dos olhos, até que de repente afasta o torrão e aparece à luz, um talo enrolado, uma folha amarrotada que lentamente se desdobra.

    e eu pergunto o que seria de todos nós se não viesse a poesia ajudar-nos a compreender quão pouca claridade têm as coisas a que chamamos claras.

    Seria tudo mais fácil de entender se confessássemos, simplesmente, o nosso infinito medo, esse que nos leva a povoar o mundo de imagens à semelhança do que somos ou julgamos ser, salvo se tão obsessivo esforço é, pelo contrário, uma invenção da coragem, ou a mera teimosia de quem se recusa a não estar onde o vazio estiver, a não dar sentido ao que sentido não terá.

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