As mulheres, no período medieval, enfrentavam consideráveis limitações para afirmarem plenamente as suas personalidades, sua sexualidade, para se mostrarem como agentes histórico-sociais capazes de conduzirem as próprias vidas em um sistema que as via, frequentemente, como meras reprodutoras ou mesmo como objetos de troca através do casamento, nas relações interfamiliares e interlinhagísticas. As que se distanciavam de um certo padrão de comportamento previsto pela sociedade eram habitualmente hostilizadas, sofriam punições e repressões de todos os tipos. Por outro lado, os séculos XIII e XIV conheceram também os modelos trovadorescos e místicos de idealização da mulher, diante dos quais, ao poeta, era permitido se apaixonar pela Dama que nunca vira, sendo esta sempre pintada com as cores de virtude idealizadas. O homem medieval, como que suspenso entre realidades concretas e imaginárias diversas, vivenciava deste modo relações de gênero bastante complexas que não raramente encontraram expressão em fontes medievais diversas.
Existe uma famosa narrativa portuguesa da Idade Média – que ficou conhecida como “Lenda de Gaia” e que chegou aos nossos tempos através de duas versões dos chamados ‘livros de linhagens’. Esta célebre narrativa nos permite, excepcionalmente, tanto vislumbrar as complexas relações entre gêneros que atravessavam as sociedades medievais, como também examinar os modelos cavaleirescos que eram tão difundidos nas crônicas medievais. Além disto, trata-se de uma narrativa na qual pode ser examinada a construção da imagem do rei, ao mesmo tempo em que são abordadas questões pertinentes à alteridade representada, principalmente, pela relação medieval entre cristãos e islâmicos.
A Lenda de Gaia
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