Cada conto é uma deliciosa surpresa em A primeira pessoa. A celebrada escritora escocesa Ali Smith, que vem reagindo em suas obras às formas dominantes da literatura contemporânea, constrói aqui narrativas particulares, capazes de despistar qualquer leitor.
Tal é o caso de ?A criança?, uma das histórias mais fascinantes desta coleção, em que uma pessoa se vê às voltas com um bebê que surge do nada em seu carrinho de supermercado e que não é seu, embora todos pareçam acreditar que sim.
O mesmo estranhamento se dá mais adiante, no conto ?N?água?, em que uma mulher é beijada por uma completa desconhecida, na rua, e ao voltar para casa encontra-se com a menina que era há três décadas, o seu ?eu de catorze anos?, para uma conversa pungente e improvável.
É a partir de situações como essas que Ali Smith discute temas centrais como a identidade, o amor e o fazer literário. Acertando em cheio e aparentemente sem esforço nosso intelecto, nosso coração e nosso senso de humor, a autora explora, por meio de jogos sofisticados, os possíveis caminhos e as questões centrais da arte de narrar.