A sabedoria dos mitos gregos: Aprender a viver II
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A primeira delas é a de que a vida boa, mesmo para os deuses, pode ser definida como a vida em harmonia com a ordem cósmica.
A vida em harmonia com a ordem cósmica, é esta a verdadeira sabedoria, o autêntico caminho da salvação, no sentido daquilo que nos salva dos medos e, com isso, nos torna mais livres e abertos aos outros.
vida boa é a vida reconciliada com o que ela é, a vida em harmonia com o seu lugar natural na ordem cósmica, cabendo a cada um encontrar esse lugar e cumprir esse percurso, se quiser um dia chegar à sabedoria e à serenidade.
a mitologia procura oferecer aos mortais que somos os meios de dar um sentido ao mundo que nos envolve.
Como você pode ver, todos os personagens até agora nascidos do sangue de Urano misturado à terra são seres assustadores, ligados à vingança, ao ódio ou à guerra. É nesse sentido que as Erínias, as ninfas Melíades e os Gigantes vão pura e simplesmente se remeter à zona de influência dessa divindade chamada Eris, personificação da discórdia, de tudo que tem a ver com o conflito funesto. Eris, aliás, é uma entidade tenebrosa, obscura, uma das filhas que a Noite, Nyx, engendrou sozinha, do mesmo jeito que Gaia, sem precisar de marido nem de amante.
a grandeza se comprova pela capacidade de se manter digno e magnânimo não só na provação, mas também na vitória
Como você bem pode imaginar, a revolta de Zeus e de seus irmãos e irmãs — Héstia, Hera, Deméter, Poseidon e Hades — contra Cronos e os demais Titãs dá início a uma guerra formidável, um conflito que nem podemos imaginar. O universo inteiro treme, com o nascente cosmos ameaçado de voltar de uma só vez ao caos. Eles lançam montanhas inteiras, um na cabeça do outro, como nós jogaríamos pedras! O universo inteiro está sendo sacudido e ameaçado de aniquilamento. No entanto, e o que para nós, mortais, é inimaginável, ninguém pode morrer durante o choque que ocorre entre seres perfeitamente imortais. A meta não é, então, matar, mas vencer o adversário, reduzindo-o à imobilidade. O que está em jogo é claro: trata-se de evitar que o caos, a desordem absoluta ganhe da possibilidade da ordem, para que um verdadeiro cosmos possa emergir. No final, graças ao raio que os Ciclopes lhe deram, e graças também à formidável força dos Cem-Braços, reconhecidos pela liberdade que Zeus lhes dera, os deuses da segunda geração, aqueles que serão chamados “olímpicos”, por guerrearem a partir de uma montanha chamada Olimpo, na qual passam a morar Zeus e os seus irmãos e irmãs, acabam vencendo. Os Titãs são cegados com relâmpagos e enterrados sob rochedos lançados pelos Cem-Braços, de forma que, derrubados, são em seguida acorrentados e aprisionados no Tártaro obscuro e cheio de mofo. Poseidon, um dos irmãos de Zeus, constrói enormes portas de bronze, sendo impossível quebrá-las ou abri-las, e os três Cem-Braços se encarregam da guarda, bem contentes, pois, lembre-se, seus irmãos Titãs não tinham tido o menor escrúpulo para trancá-los sob o chão até que Zeus os libertasse!