A morte do joven portuense João Alvares d'Almeida Guimarães foi perda mui real e consideravel não sómente para a sua familia e amigos, mas ainda para o ensino público e para a litteratura. Unia elle bom cabedal de talentos a bem fornecido peculio d'instrucção bebida em salutares mananciaes; por quanto a mais leve mácula d'irreligião, a mais esvaida tinctura de cynismo, lhe eram sobejo motivo para abandonar começadas leituras, e romper toda a communicação com auctores eivados de similhante lepra, e que, na esperança talvez de mais avultados lucros ou de maior celebridade, inculcam theorias que a experiencia desmente, ou lisonjeam paixões que muito conviria refrear. Joven nos annos, ancião na prudencia, não pagava fôro á presumpçosa insania d'um seculo legitimador de todas as illegitimidades, atrozmente corrupto e corruptor. Todavia recatava este joven suas raras virtudes e preciosos talentos sob o véo da natural modestia; e por isso, para ser bem avaliado, havia mister conhecido e tractado de perto. Coube-me essa dita, e são para mim de saudosa recordação tantas noites que passamos embebidos em serio estudo, ou, por vezes, em colloquio amigavel. Quando em mim a fragil natureza ceder ás instigações da vaidade, exclamarei na fôrça do meu enthusiasmo: João Alvares d'Almeida Guimarães foi meu discipulo e amigo!
A Saudade: Canto elegiaco
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