Em A Senhora do Galvão conhece-se o caso de uma mulher, Maria Olímpia, com a “vocação da vida exterior”, que se sente ameaçada em seu casamento com um advogado depois que começa a receber cartas anônimas insinuando amores de seu marido com a jovem viúva de um brigadeiro.
No conto Maria Olímpia recebe tantas cartas pelo correio, que o marido suspeita tratar-se de correspondência amorosa entre a esposa e um provável amante e a obriga a entregar-lhe as cartas. As cartas são, no entanto, cartas anônimas que acusam não a mulher mas o marido. A cena é narrada com um rigor microscópio:
"Galvão abriu a carta e deitou-lhe os olhos ávidos. Ela enterrou a cabeça na cintura, para ver de perto a franja do vestido. Não o viu empalidecer. Quando ele, depois de alguns minutos, proferiu duas ou três palavras, tinha já a fisionomia composta e um esboço de sorriso. Mas a mulher, que o não adivinhava, respondeu ainda de cabeça baixa; só a levantou daí a três ou quatro minutos, e não para fitá-lo de uma vez, mas aos pedaços, como se temesse descobrir-lhe nos olhos a confirmação do anônimo. Vendo-lhe, ao contrário, um sorriso, achou que era o da inocência, e falou de outra coisa."
Apesar da denúncia, a instituição do casamento permanece intocável. O 'curto-circuito emocional' provocado pela presença de um amante na relação de propriedade que se firma com o casamento, não ocasiona, na versão feminina de descoberta de uma amante, reações radicais de rompimento, semelhantes às tomadas por Vilela, em A Cartomante, e por Bentinho, em Dom Casmurro.
A senhora do Galvão
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