Realismo Mágico da Literatura Brasileira
Conto de Welington Almeida Pinto, produzido numa linguagem, especialmente, para o seu aparelho de mídia virtual. Dá vontade de ler? Então leia. Todo bom texto provoca alterações no corpo e na cabeça de quem lê, principalmente, quando agrega dentro das palavras sabores inusitados.
A narrativa se desenvolve numa conversa inteligente entre um Publicitário, Sófocles, e uma Professora de Literatura, Luciana, no meio de um salão animado por um baile da cidade. História curta, enxuta, que mescla realidade e ficção com a qual, o leitor possa se identificar e transformá-la em um fabuloso palco de reflexões. Mexe com a emoção de quem lê, principalmente, quando atento às palavras que revelam as intenções veladas dos personagens.
Em frases recheadas de enigmas e silêncios, o texto respira o oxigênio de uma época do escritor, com seus devaneios agradáveis dos Anos 70, materializados em palavras. A cidade de Belo Horizonte, como sempre, está presente em vários de seus ensaios, que muitas vezes, são baseados em episódios autobiográficos, ou que acontecem no dia a dia de uma Cidade Latina. Neste ensaio, mais uma vez, o autor mergulha em suas memórias.
Trecho. O conto começa assim:
Sófocles larga o jornal e levanta os olhos para o relógio na parede, que marcava nove horas da noite. Esfrega as mãos, ajeita o colarinho da camisa e se despede dos amigos da sala de leitura do Minas Tênis Clube. Desce a escadaria até o hall de entrada do Salão de Festas e fica ali um tempinho, passeando o olhar pela fila de mesas, quase todas ocupadas.
Apressadamente, escolhe uma entre as poucas vazias e logo se acomoda numa mesa de mogno escuro, coberta por um forro amarronzado, onde descansava o cardápio ilustrado com o logotipo do clube. Ao lado um cinzeiro de metal.
Enquanto esperava pelo garçom, seus olhos claros e vivos observavam as pessoas sentadas ao longo da pista de dança. A maioria das mulheres trajavam vestidos longos e os cavalheiros vestiam terno escuro com gravata colorida, quase todos com cara de executivos ou acionistas da bolsa de valores. Com a melhor cara do mundo, elas saudavam umas às outras e riam muito, enquanto aguardavam a hora da orquestra começar a tocar.
De repente, Sófocles avista um garçom que servia logo adiante. Levando um dos braços e estala os dedos, chamando sua atenção. O salão estava cheio. Os garçons se moviam como contorcionistas de circo, fazendo um esforço heroico para melhor atender seus clientes. Dois minutos depois, ele se aproxima, cordialmente:
- Boa noite, doutor.
- Boa noite. Não sou doutor, meu nome é Sófocles.
- Desculpe-me, senhor.
- Por favor, uma cerveja.
- Brahma ou Antártica?
- Só trabalha com as duas marcas?
- Sim.
- Então, a mais gelada, por favor. E dois copos.
- Alguma outra coisa, senhor?
- Por agora, não.
- A comanda, por gentileza ? pede o garçom.
- Comanda!?...
- Não lhe deram uma folha de papel na entrada?
- Não. Quer dizer, sim. Desculpe-me, está no bolso do paletó.
- Obrigado. Trago a bebida em dois minutos.
- Bem gelada, sim? ? reforça.
O moço sai e logo volta com o pedido, curvando-se para servir.
- Com ou sem colarinho?
- Com.
Dez minutos depois, as luzes do teto diminuem a intensidade e o salão mergulha em agradável penumbra. Cortinas do palco se abrem, exibindo a orquestra que tocava Look for a Star, de Billy Vaughn, enquanto um facho colorido de luz tingia as paredes, os móveis, as fisionomias das pessoas. Hora de dançar. Cavalheiros convidam suas damas e, juntos, caminham solenemente até a pista de dança, onde começam a flutuar em diversos graus de intimidade.
[...]
Conto de Welington Almeida Pinto, produzido numa linguagem, especialmente, para o seu aparelho de mídia virtual. Dá vontade de ler? Então leia. Todo bom texto provoca alterações no corpo e na cabeça de quem lê, principalmente, quando agrega dentro das palavras sabores inusitados.
A narrativa se desenvolve numa conversa inteligente entre um Publicitário, Sófocles, e uma Professora de Literatura, Luciana, no meio de um salão animado por um baile da cidade. História curta, enxuta, que mescla realidade e ficção com a qual, o leitor possa se identificar e transformá-la em um fabuloso palco de reflexões. Mexe com a emoção de quem lê, principalmente, quando atento às palavras que revelam as intenções veladas dos personagens.
Em frases recheadas de enigmas e silêncios, o texto respira o oxigênio de uma época do escritor, com seus devaneios agradáveis dos Anos 70, materializados em palavras. A cidade de Belo Horizonte, como sempre, está presente em vários de seus ensaios, que muitas vezes, são baseados em episódios autobiográficos, ou que acontecem no dia a dia de uma Cidade Latina. Neste ensaio, mais uma vez, o autor mergulha em suas memórias.
Trecho. O conto começa assim:
Sófocles larga o jornal e levanta os olhos para o relógio na parede, que marcava nove horas da noite. Esfrega as mãos, ajeita o colarinho da camisa e se despede dos amigos da sala de leitura do Minas Tênis Clube. Desce a escadaria até o hall de entrada do Salão de Festas e fica ali um tempinho, passeando o olhar pela fila de mesas, quase todas ocupadas.
Apressadamente, escolhe uma entre as poucas vazias e logo se acomoda numa mesa de mogno escuro, coberta por um forro amarronzado, onde descansava o cardápio ilustrado com o logotipo do clube. Ao lado um cinzeiro de metal.
Enquanto esperava pelo garçom, seus olhos claros e vivos observavam as pessoas sentadas ao longo da pista de dança. A maioria das mulheres trajavam vestidos longos e os cavalheiros vestiam terno escuro com gravata colorida, quase todos com cara de executivos ou acionistas da bolsa de valores. Com a melhor cara do mundo, elas saudavam umas às outras e riam muito, enquanto aguardavam a hora da orquestra começar a tocar.
De repente, Sófocles avista um garçom que servia logo adiante. Levando um dos braços e estala os dedos, chamando sua atenção. O salão estava cheio. Os garçons se moviam como contorcionistas de circo, fazendo um esforço heroico para melhor atender seus clientes. Dois minutos depois, ele se aproxima, cordialmente:
- Boa noite, doutor.
- Boa noite. Não sou doutor, meu nome é Sófocles.
- Desculpe-me, senhor.
- Por favor, uma cerveja.
- Brahma ou Antártica?
- Só trabalha com as duas marcas?
- Sim.
- Então, a mais gelada, por favor. E dois copos.
- Alguma outra coisa, senhor?
- Por agora, não.
- A comanda, por gentileza ? pede o garçom.
- Comanda!?...
- Não lhe deram uma folha de papel na entrada?
- Não. Quer dizer, sim. Desculpe-me, está no bolso do paletó.
- Obrigado. Trago a bebida em dois minutos.
- Bem gelada, sim? ? reforça.
O moço sai e logo volta com o pedido, curvando-se para servir.
- Com ou sem colarinho?
- Com.
Dez minutos depois, as luzes do teto diminuem a intensidade e o salão mergulha em agradável penumbra. Cortinas do palco se abrem, exibindo a orquestra que tocava Look for a Star, de Billy Vaughn, enquanto um facho colorido de luz tingia as paredes, os móveis, as fisionomias das pessoas. Hora de dançar. Cavalheiros convidam suas damas e, juntos, caminham solenemente até a pista de dança, onde começam a flutuar em diversos graus de intimidade.
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