"Nessa manhã, Godofredo da Conceição Alves, encalmado, soprando por ter vindo do Terreiro do Paço quase a correr, abria o batente de baetão verde do seu escritório, na Rua dos Douradores, quando o relógio de parede, por cima da carteira do guarda livros, batia as duas horas, naquele tom cavo a que os tectos baixos davam uma sonoridade dolente e triste. Godofredo, parou, verificou o seu próprio relógio, preso por uma corrente de cabelo sobre o colete branco, e não conteve um gesto de irritação vendo a sua – manhã assim perdida pelas repartições do Ministério da Marinha. Era sempre assim, quando o seu negócio de comissões para o Ultramar o levava lá. Apesar de ter um primo director geral, de escorregar de vez em quando uma placa de cinco tostões na mão dos contínuos, de ter descontado letras de favor a dois segundos oficiais, eram sempre as mesmas esperas dormentes pelo ministro, um folhear eterno de papelada, hesitações, demoras, todo um trabalho irregular, rangente e desconjuntado de velha máquina meio desaparafusada."
Texto segundo o Novo Acordo Ortográfico.
Alves & C.ª
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