Anatomia dos Mártires
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ainda não me dera conta de que a nossa existência era indissociável da memória dos mortos.
Era assim que se vivia em Portugal: vivia-se com medo e por causa do medo não se chegava a viver.”
“Estamos a criar uma nova ditadura, a do silêncio: vivemos com medo e, por causa do medo, não chegamos a viver.”
“Um mártir morre porque tem razão e a única maneira de o mostrar, para que os outros vejam e entendam – ou, pelo menos, aceitem –, é abdicar da própria vida.”
“Um mártir é alguém que tem a razão do seu lado e ainda assim fracassa”,
“Escuta”, respondeu, afastando o prato para o lado e apontando- -me um dedo indicador como sempre fazia em ocasiões de conflito. “Estou-me bem nas tintas para a tua geração, para o que ela pensa da vida ou pretende fazer com ela. Deitem-na fora, cuspam- -lhe em cima, joguem o vosso golfe e espatifem os vossos carros automáticos, é-me indiferente. Para te dizer a verdade, acho ótimo que não tenham ideais; afinal só precisamos de os ter quando o mundo está mal, certo? Se não há ideais nem nada por que lutar então é porque tudo está bem e as pessoas andam todas contentes, verdade? Eu vejo-as por aí, alegres da vida, nos centros comerciais, nas capas das revistas e nos concursos da televisão. Acho tudo muito respeitável e sério. Respeito-as mesmo, sabes? Mas respeita tu também quem chegou antes de ti e viu coisas que tu não viste. Sabes perfeitamente que não sou nenhum revolucionário. Porra, nem sequer tenho grande apreço pelos comunistas e há uma carrada de anos que não voto.” Respirou fundo e afastou o cabelo que lhe caía sobre os olhos, sobre a testa suada; vi de repente outra vez o meu velho pai, cansado, exausto, miseravelmente só. “Continua a escrever nos jornais, mas, quando o fizeres, pensa duas vezes. Tu achas que são só palavras mas, quando deres por ti, estás de tal maneira enredado em meias-verdades e meias-mentiras e lugares-comuns que acabas por te transformar num desses tipos dos centros comerciais, das revistas e da televisão, que são incapazes de ver a realidade mesmo
“Era como todas as outras coisas: a repressão, o silêncio, a fome. Faziam parte da vida e faziam parte de nós. Era assim que se vivia em Portugal: vivia-se com medo e por causa do medo não se chegava a viver.”
“Escuta”, respondeu, afastando o prato para o lado e apontando- -me um dedo indicador como sempre fazia em ocasiões de conflito. “Estou-me bem nas tintas para a tua geração, para o que ela pensa da vida ou pretende fazer com ela. Deitem-na fora, cuspam- -lhe em cima, joguem o vosso golfe e espatifem os vossos carros automáticos, é-me indiferente. Para te dizer a verdade, acho ótimo que não tenham ideais; afinal só precisamos de os ter quando o mundo está mal, certo? Se não há ideais nem nada por que lutar então é porque tudo está bem e as pessoas andam todas contentes, verdade? Eu vejo-as por aí, alegres da vida, nos centros comerciais, nas capas das revistas e nos concursos da televisão. Acho tudo muito respeitável e sério. Respeito-as mesmo, sabes? Mas respeita tu também quem chegou antes de ti e viu coisas que tu não viste. Sabes perfeitamente que não sou nenhum revolucionário. Porra, nem sequer tenho grande apreço pelos comunistas e há uma carrada de anos que não voto.” Respirou fundo e afastou o cabelo que lhe caía sobre os olhos, sobre a testa suada; vi de repente outra vez o meu velho pai, cansado, exausto, miseravelmente só. “Continua a escrever nos jornais, mas, quando o fizeres, pensa duas vezes. Tu achas que são só palavras mas, quando deres por ti, estás de tal maneira enredado em meias-verdades e meias-mentiras e lugares-comuns que acabas por te transformar num desses tipos dos centros comerciais, das revistas e da televisão, que são incapazes de ver a realidade mesmo que ela lhes bata na testa com uma marreta.”