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    Araguaia

    Por José Humberto da Silva Henriques

    Sobre

    Araguaia
    O escritor José Humberto Silva Henriques é o maior e provavelmente o mais consistente, inventivo e multiforme fenômeno literário já surgido no Brasil, com atualmente (outubro/2015), mais de 270 (duzentas e setenta) obras escritas nos gêneros romance (o mais cultivado), conto, novela literária, textos, poemas, visuais, ensaios estéticos, peças de teatro e, também, o ensaio poético Araguaia de 2010. Todas de alta qualidade e, algumas, grandes obras-primas, como o romance Pernaiada.
    Araguaia, o grande rio que, unindo-se ao Tocantins, desagua no Amazonas, é o tema do ensaio poético de Silva Henriques.
    “O rio mais bonito do mundo”, como proclama, é revolvido desde as entranhas à beleza incontida do esplendor de sua portentosa massa líquida, desprezada, no entanto, toda descrição geográfica e meramente física, com entronização em seu lugar da beleza das palavras que o traduzem e o resumem em sua natureza, pertinência e constância, partilhando e compartilhando seu corpo aquático com a flora e a fauna que medram em seu interior, bordas, orlas e ares.
    Tanto um (o rio) quanto outro (tudo o mais) não são mimetizados em prosaísmo naturalístico que se compraz em incursões meramente descritivas.
    O que se trabalha nesse ensaio é o cerne que o constitui e as manifestações de vida que propicia no interior de seu leito e às suas margens, que ele conforma e confirma à sua imagem e semelhança.
    O rio, a água, onipresenças, alicerces e fundamentos da monumental catedral gótica vocabular e nomenclatural da fauna e da flora, cujos espécimes vivem e vicejam às suas margens, tão viscerais quanto a massa d’água e que, ao mesmo tempo que a cercam por ela são formadas, conformando-se e se indispensabilizando uma à outra.
    A epopeia fluvial de Henriques se perfaz em riqueza imaginativa e léxica, em pessoal e intransferível criação poética. Sobre o real existente, o rio e seus flancos, a fauna e a flora que criam e sustentam, constrói-se outra realidade, a da percepção e criação intelectual, que os valorizam, expõem e decifram.
    Araguaia, de Silva Henriques, é invenção e decifração. Nada do que fala e expõe é descritivo e prosaico. Invenção e decifração, suma e súmula.
    Nele, no rio, deslizam as águas e vivem e sobrevivem espécies variadas. Desde esse ensaio, sobrepairam sobre essas águas e seus habitantes, agregados e marginais a palavra e a percepção poética, extraídas dessa e motivadas por essa realidade natural.
    Inventiva, reveladora e compreensiva, a palavra de Silva Henriques percorre e discerne o rio e o qualifica e conceitua.
    Desde então, desde que passou a existir, esse poema-rio, tão líquido, flexível, móbil e coleante quanto o caudal que contempla, canta e proclama, integrou-se à paisagem, não se podendo mais, pois, usufruir-se e inteirar-se do rio quem não se inteirar e usufruir do poema.
    Não é simples vestimenta que o cobre e o acompanha, mas sua própria pele, a ele aderida sem possibilidade de retirada e descarte.
    Pode-se ver e navegar o rio, nele pescar e mergulhar, mas nunca conhecê-lo e interpretá-lo sem o Araguaia de Silva Henriques, que não é outro Araguaia, mas, o próprio, observado, entendido e desvendado.
    Nele, no poema, as palavras, como as águas, não se esgotam, não se esvaem, correndo sempre, contínua e persistentemente amolgadas à sua mais íntima natureza e consistência. Para sempre.
    A beleza eterna do rio propicia a beleza eterna da arte, por obra e graça da intervenção e da invenção humana.
    (do livro Literatura e Estudos Históricos em Uberaba, recém lançado)
    Guido Bilharinho é advogado e autor de livros de literatura, cinema e história regional
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