O ser humano detesta a solidão plena do mesmo modo como o ofegante detesta a ausência de oxigênio. Mas a solidão branda é um convite ao processo de interiorização, reflexão, libertação do imaginário e criação. Muitos não são criativos não por serem incapazes de ousar, inferir e produzir novas ideias, mas por não conseguirem conviver com o mínimo estado de solidão. Eles odeiam o tédio. Se você não souber usar o silêncio perpetrado pela solidão branda, terá dificuldade de ter um encontro consigo mesmo e ser criativo. Raramente as pessoas têm um tempo especial para si, para poder aparar suas arestas, refazer seus caminhos e resgatar seus sonhos. São viciadas em seus celulares, a mínima solidão as estimula a se conectar com a internet, usar algum aplicativo ou jogar um game. A relação entre casais é tão bizarra nos dias atuais que não existe mais uma relação a dois, mas a quatro: um parceiro, uma parceira e dois celulares. Aliás, o celular é um amante que recebe mais atenção que o mais cortejado dos cônjuges. Há situações doentiamente interessantes. Um casal num restaurante, sem olhar um para o outro e plugado no celular. E quando querem falar algo entre si, enviam uma mensagem. Comento no livro Ansiedade: como enfrentar o mal do século que casais, bem como crianças e adolescentes, não sabem se interiorizar, conectar-se consigo, mapear-se. Abandonaram-se, são estranhos no ninho social, não conhecem ninguém profundamente, e, o pior, não conhecem minimamente a si mesmos.