AS TRÊS TRANSFORMAÇÕES DO ESPÍRITO

AS TRÊS TRANSFORMAÇÕES DO ESPÍRITO A presente era moderna e que alguns teóricos como Pablo Gentili, Boaventura de Souza santos e, mesmo Anthony Guiddens preferem chamar de Pós-moderna, erigida a partir do “penso, logo existo” Cartesiano, com seus ranços positivistas, sistematizando a sobreposição da razão em detrimento da emoção e/ou respectivamente, a sobreposição do espírito em detrimento da alma, instituíram tragicamente, também, os processos de racionalização das emoções, culminando no desenvolvimento da arte racional da dissimulação como sendo um valor social. Em outras palavras, as sociedades capitalistas ocidentais modernas, inauguradas por Descartes, com o seu chamado “espírito cartesiano”, sintetizada e sistematizada na sua conhecida máxima “penso, logo existo”, tiraram dos homens a sua alma, a sua matéria e elegeram, instituíram, sacramentaram, cristalizaram a razão, somente a razão, como sendo a essência do ser humano. Isto é, no lugar da alma, pôs-se somente a razão, o espírito, a partir da sistematização deste “penso, logo existo”. Ora, mas o que seria um homem somente dotado de espírito e não de alma, sendo que na alma de um ser está, entre muitas outras coisas, a sua realidade sensível, as suas expressões naturais, a sua essência, a sua espontaneidade, o seu modo autêntico de expressão diante dos outros seres? Um homem “desalmado”, dotado somente de espírito, somente de razão é aquele que, entre muitas outras coisas, é capaz de: 1- Amar sem amor; 2- Fazer sexo sem vontade, sem amor e, até mesmo, sozinho; 3- Viver só para trabalhar e não trabalha para viver; 4- Trabalhar só pelo dinheiro; 5- Se alimentar sem estar com fome; 6- Confundir necessidade com vontade; 7- Não falar o que é verdadeiro, mas só o que faz sentido e que é lógico, visando algum benefício; 8- Colocar a produtividade no lugar da atividade; 9- Usar suas emoções, a serviço da razão, para dissimular, ludibriar e alcançar seus objetivos; 10- Ser conscientemente um desalmado e ver nisso um valor. Em outras palavras, como salientou brilhantemente Hannah Arendt: “o que é verdadeiro para o espírito nem sempre é verdadeiro para a alma” e, nesse sentido, o Cartesianismo fez a sua escolha: preferiu ficar só com o espírito e abriu mão da sua alma. (1971 – A vida do espírito) Esta obra, nesse sentido, procura aprofundar questionamento sobre a vida social e humana e, ao mesmo tempo, apontar caminhos, do ponto de vista da retomada dos processos de humanização e da autonomia intelectual, buscando respaldo nas fundamentações epistemológicas de Hannah Arendt, Kant, Aristóteles, Nietzsche e também muitos outros.