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    Boa Ventura!: A corrida do ouro no Brasil (1697-1810)

    Por Lucas Figueiredo
    Existem 14 citações disponíveis para Boa Ventura!: A corrida do ouro no Brasil (1697-1810)

    Sobre

    Aqui, Lucas Figueiredo traz à vida, pela primeira vez, a trajetória dura e demorada em direção à descoberta de nossas riquezas minerais — e suas conseqüências. A América Portuguesa estava entre as noves províncias gemológicas do mundo. Com um solo impregnado de pedras preciosas, sobretudo, diamantes. Mas foram mais de dois séculos até a Coroa ver algum sinal de riqueza. E apenas a metade do tempo para dilapidar esses recursos. Em cem anos, Portugal torrara mais de metade do metal precioso produzido no mundo naquele período. Uma sucessão de monarcas perdulários, administradores corruptos e sonegadores de impostos desfilam nas páginas de Boa Ventura com a familiaridade nascida da boa pesquisa. Lucas, com vários Prêmios Esso na bagagem, segue as pegadas fincadas nas picadas da mata por gerações de aventureiros. E traça um painel da grande transformação brasileira: estimulada pela corrida do ouro, a imigração contribuiu para transformar uma colônia esquálida de 300 mil habitantes em robusta colônia de 3,6 milhões. A busca pelo metal ajudou a ocupar e proteger as fronteiras do Brasil, a desenvolver a agricultura e até mesmo as artes. Só uma coisa não restou desse período... Seu principal protagonista: o ouro brasileiro. Pulverizado por toda Europa.
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    Citações de Boa Ventura!: A corrida do ouro no Brasil (1697-1810)

    Pela qualidade dos achados, Lencastre previa uma era de fartura para Portugal, mas fazia um alerta, quase um presságio: se o ouro fosse usado apenas para bancar compras na França, Inglaterra, Holanda e Itália, todo o proveito daquele enorme empreendimento ficaria com os países estrangeiros.

    Era tanto ouro que toda a economia europeia foi irrigada, provocando um forte arranque no recém-nascido sistema mercantilista e sepultando de vez a economia feudal.

    Fome, morticínio, violência, despovoamento de Portugal, desmantelamento da indústria açucareira no Nordeste, perturbação social e econômica em toda a colônia…

    Em dois períodos, entre 1697 e 1698 e entre 1700 e 1701, a principal marca da corrida do ouro foi a fome.

    Em regra geral, o comércio dava mais dinheiro que a mineração. Acabara-se o tempo em que os moradores da região compravam apenas produtos básicos, como açúcar, farinhas, carnes, cachaça, ferramentas de mineração e roupas grosseiras. Em meados dos Setecentos, os moradores da capitania tinham um padrão de demanda europeu.

    Não há dados exatos que indiquem quanto a Coroa e os aventureiros lucraram com as lavras mato-grossenses e rondonienses, mas é possível imaginar que foi muito. Calcula-se que, só no reinado de d. João V, as minas da região tenham produzido 29 toneladas de ouro, peso equivalente ao de sete elefantes adultos.

    Assim que suas vítimas alcançavam um ponto propício para o ataque, centenas de índios se punham na água com suas velozes canoas, de três a quatro lugares, e investiam contra as monções. Ao som de berros horripilantes, lançavam flechas e azagaias e desferiam golpes de porrete. Quando porventura havia reação com disparo de armas de fogo, os paiaguás inclinavam suas canoas, fazendo-as de escudo. Os selvagens sabiam que, de quando em quando, seus inimigos eram obrigados a carregar suas pistolas ou arcabuzes, e era nesse momento que os paiguás endireitavam as embarcações e desferiam nova saraivada de flechas e azagaias. Para desnortear seus oponentes, os índios tinham outro recurso: afundar as próprias canoas, enchendo-as de água, para logo em seguida fazê-las emergir novamente noutro ponto do rio.

    difícil saber se os brindes fizeram aumentar no exterior o prestígio de Portugal, mas uma coisa é certa: em muitos cantos da Europa, d. João V — também chamado de O Magnânimo, eufemismo para perdulário — era tido equivocadamente como o monarca mais rico do continente. Um dos que embarcaram no engano foi o sacerdote inglês John Wesley. “Negociantes que viveram em Portugal”, escreveu ele em meados do século XVIII, “informam-nos que o rei tinha (…) mais ouro armazenado, cunhado ou não, do que todos os demais príncipes da Europa reunidos.”

    Em 1728, um ano após entrar na Academia Francesa, Montesquieu já notava que o ouro do Brasil estava impulsionando o desenvolvimento do norte da Europa, sobretudo na Inglaterra.

    Das cerca de 1.000 toneladas de ouro extraídas no Brasil na época do rush, calcula-se que mais de 800 toneladas tenham seguido para a Europa.

    Como compensação por uma vida de trabalho duro, minhotos analfabetos enriquecidos no Brasil eram enterrados em caixões forrados de seda e detalhes em ouro. O fausto deixou de ser exclusividade da nobreza, e isso incomodou profundamente a aristocracia. O mal-estar foi tão grande que d. João V chegou a baixar normas — olimpicamente ignoradas — para tentar pôr um freio no “excesso” de luxo, inclusive no dos caixões.

    Com o tempo, passaram de meros consumidores de livros a escritores, deixando vivas contribuições à língua portuguesa — na colônia, foram os autores de Minas Gerais quem primeiro superaram a complexa linguagem arcaica portuguesa e passaram a se expressar com frases curtas, claras, diretas e racionais, criando a base de uma literatura genuinamente brasileira.38

    O Capão da Traição fica em São João del-Rei (MG), mas sua localização exata sempre foi motivo de divergência entre cronistas e historiadores. Um marco oficial aponta o suposto local como sendo a atual praça Senhor do Bom Jesus Matozinhos, no bairro Matozinhos.

    Na corte, já não havia mais dúvidas de que a região conhecida como Minas do Ouro — também chamada de Minas de Cataguases, Minas de Taubaté, Minas de São Paulo, Minas do Ouro de São Paulo ou, menos frequentemente, Minas Gerais — era a mais importante da colônia, ultrapassando praças tradicionais como Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro.

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