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    Caderno H

    Por Mario Quintana
    Existem 8 citações disponíveis para Caderno H

    Sobre

    ?A simplicidade de Quintana não é a simplicidade da mera secura, mas a da percepção poética reduzida à sua faísca original.?
    ? Braulio Tavares, no prefácio da edição


    Por décadas, Mario Quintana publicou no jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, seu ?Caderno H?, feito de poesia, humor, sabedoria. Da crônica ao poema, passando pelas frases cheias de espírito, esses cadernos foram os grandes responsáveis pela consagração popular de sua literatura. Editada originalmente em 1973, a obra reuniu alguns dos trechos mais marcantes e conhecidos do escritor gaúcho.
    A presente edição propicia ao leitor contemporâneo o encontro ? e ao leitor veterano o reencontro ? com ideias e histórias que, de tão repetidas e citadas, fazem parte do repertório de provérbios e frases feitas da cultura literária brasileira. E o novo projeto gráfico é inteiramente baseado em seus manuscritos, pertencentes ao acervo do Instituto Moreira Salles, além de fotos e ilustrações.
    A cada novo trecho do Caderno, está presente a união singular da inteligência com a intuição reveladora ? característica tão comum a Quintana. Os textos do Caderno H, por sua própria organização fragmentária, fornecem alimento cotidiano à inteligência do leitor comum, com aforismos, poeminhas e pequenas prosas.
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    Citações de Caderno H

    Se eu amo a meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante?

    Nada sobrou As pessoas sem imaginação podem ter tido as mais imprevistas aventuras, podem ter visitado as terras mais estranhas… Nada lhes ficou. Nada lhes sobrou. Uma vida não basta apenas ser vivida: também precisa ser sonhada.

    Da modéstia A modéstia é a vaidade escondida atrás da porta.

    Democracia? É dar, a todos, o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, isso depende de cada um.

    Do sonho Sonhar é acordar-se para dentro.

    Para uma história da filosofia A maior conquista do pensamento ocidental foi o emprego das reticências…

    Mastiga-me devagarinho “Deu um suspiro, retesou-se no assento e tombou.” Tomei nota da frase para estudar o que havia de errado nela, ou em mim, visto que a achei de um cômico irresistível. A notação e sequência dos fatos estava exata, o estilo enxuto. Como era, então, que a gente ria tanto, em vez de chorar? Mas agora, passando a limpo a referida transcrição (de um de nossos clássicos), não atino como não descobri logo a coisa. O pique estava na rápida e por assim dizer convulsiva sucessão dos gestos, como naqueles jornais cinematográficos de antigamente. O suspense requer suspensão do tempo, emoção em câmara lenta. O suspense é o striptease do horror. “Mastiga-me devagarinho!” — dizem os viciados, no escuro das salas de projeção, enquanto no Outro Mundo, ou quem sabe se logo ali por detrás da tela, Sacher-Masoch e o Marquês de Sade estão dançando os dois em vagarosa pavana. Muito bonito, mas não é bem assim. “Suspense”, por culpa de Mestre Hitchcock, tem-se aplicado unicamente a essas taradezas. O que eu queria dizer é que todas, todas as coisas têm de ser dosadas com suspense, para poderem impressionar e encantar. Mestra de estilo, feiticeira da arte narrativa, era aquela negra velha que nos contava histórias em pequeninos. Ficávamos literalmente no ar, nem respirávamos quando ela, encompridando a corda, dizia arrastadamente esta longa frase, cheia de nada e de tudo: — E vai daí o príncipe pegou e disse…

    Versículo inédito do Gênesis E eis que, tendo Deus descansado no sétimo dia, os poetas continuaram a obra da Criação.

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