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    Caixa-preta

    Por Ivan Sant'Anna
    Existem 8 citações disponíveis para Caixa-preta

    Sobre

    Ivan Sant´Anna reconstitui três desastres que entraram para a história da aviação brasileira "A aviação é feita de centenas e centenas de horas de pura rotina entremeadas de minutos de puro terror". ONZE DE JULHO DE 1973. O Boeing 707 decola do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, para um vôo de 14 horas rumo a Orly, na França. Entre os passageiros, a socialite Regina Lecléry, o senador Filinto Müller e o cantor Agostinho dos Santos. Esse voo, no entanto, jamais pousaria em Orly: a menos de um minuto do pouso, mergulha numa plantação de repolhos, tomado pelas chamas. VINTE E NOVE DE SETEMBRO DE 1988. Mais uma ponte aérea Brasília-Belo Horizonte-Rio na vida do experiente piloto Murilo de Lima e Silva, que naquele dia comandava o VP-375. Para quem pilotara caças militares, o trecho tranqüilo permitia até mesmo que ele e o co-piloto recebessem um amigo no cockpit para um papo. O céu era de brigadeiro até que um dos passageiros, armado, ordena que o avião seja espatifado no Palácio do Planalto. O desejo do seqüestrador era claro: atingir o Presidente da República, José Sarney. Todos a bordo morreriam juntos. TRÊS DE SETEMBRO DE 1989. Maracanã lotado para assistir ao Brasil X Chile, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 90. Longe dali, em algum ponto a princípio entre Marabá e Belém, Cezar Augusto Garcez comanda um vôo cego. Perdido em pleno ar, tenta se posicionar. No dia seguinte, a imprensa publicaria: "Avião desaparece na Amazônia". Em Caixa-preta, Ivan SantAnna reconstitui a trágica história desses três vôos. Partindo de um amplo trabalho de pesquisa e uma série de entrevistas, faxes, e-mails, telefonemas, cartas, documentos e laudos, o autor reuniu informações inéditas sobre os episódios e traçou, com mestria de ficcionista, os instantes que antecederam os vôos, acompanhando os principais personagens, retratando os momentos de pânico em que cada um viu a própria vida em risco.
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    Citações de Caixa-preta

    Talvez o momento mais decisivo daquele domingo tenha sido aquele em que o jogo foi interrompido, assanhando os locutores de rádio, fazendo com que se esquecessem da obrigação de informar, a cada dez minutos, o nome e a localização de suas emissoras. Se tivessem cumprido a lei — permitindo assim que Garcez, em sua escuta desesperada, encontrasse um rumo na escuridão —, o acidente poderia não ter ocorrido.

    Se fosse dotado de um radar de aproximação, o Centro teria percebido que o RG-254 não se encontrava na área. Mas Belém não dispunha desse equipamento.

    Garcez parou em 270, que lhe pareceu corresponder ao número 0270 indicado no plano de voo. O instrumento comportava três dígitos. No plano de voo, constavam quatro. Garcez ignorou o primeiro dígito (talvez por ser um zero à esquerda) e julgou que 0270 era 270º. Não se lembrou que, no plano de voo, o último algarismo à direita correspondia a décimo de grau; 0270 na verdade significava 27,0º.

    Quando regressou da inspeção externa, Zille, em vez de consultar seu próprio plano de voo, ou as cartas de rota, como era de sua obrigação, limitou-se a dar uma olhada no HSI do comandante, onde a proa inserida era 270º.

    Quinze entre 22 comandantes internacionais, testados em Amsterdã, cometeram o mesmo equívoco.

    Entretanto, assim que chegou ao Galeão, foi dar uma conferida na Varig. Constatou que havia lugares vagos na primeira (o senador José Sarney, que pretendera embarcar com a mulher para Paris, desistira de viajar naquela noite).

    “Nós não pedimos para ser eternos, mas apenas para não ver os atos e as coisas perderem subitamente o seu sentido.” Antoine de Saint-Exupéry Voo Noturno

    Durante os quase três anos em que trabalhei neste projeto, meu escritório transformou-se numa cabine de comando de um jato de passageiros, ora em chamas sobre Paris, ora com um louco armado a bordo, ora perdido — e com o combustível se esgotando — na escuridão da noite amazônica. Houve momentos em que me senti como se tivesse voltado ao passado e comprado passagens para os voos RG-820, VP-375 e RG-254, cujas histórias (e tragédias) o leitor conhecerá ao desvendar os segredos da caixa-preta que se segue.

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