Ele não tinha nome. Muito embora em sua certidão de nascimento constasse o de Carlos Alberto de Souza Spitz, todos apenas o conheciam e o chamavam pela alcunha de Caranguejo. Apesar de os mais primordiais primatas já se equilibrarem sobre os dois pés, caminhando eretos em direção à evolução que culminou no que se convencionou chamar de espécie humana, Caranguejo apenas rastejava. Nascera com grave deficiência física: Quatro braços, duas pernas, membros marcados por enormes e peludas calosidades. Renegado, só não fora sacrificado ao nascer conforme ordenava o antigo costume romano, porquê hoje vivemos naquilo que chamamos de civilização moderna. Logo, sobrevivera, arrastando-se através do assoalho polido da casa colonial de Friedrich Spitz, conhecido fazendeiro da região serrana do Estado do Rio de Janeiro. Escondia-se sob o piano de cauda importado da Áustria, destoando das figuras elegantes que circulavam pela ampla e confortável sala de estar.
Sem nome, sem identidade, sem destino. Pais convenientemente ignorados. Ninguém reclama a paternidade do filho monstruoso. Assim sobrevivia: das migalhas caídas da mesa da sala de jantar, dos restos postos no velho vasilhame de alumínio. Longe do mar e do mangue, Caranguejo era um ser deslocado.
Este conto integra a coletânea CRIATURAS DEMASIADAMENTE HUMANAS, à venda neste site.
Sem nome, sem identidade, sem destino. Pais convenientemente ignorados. Ninguém reclama a paternidade do filho monstruoso. Assim sobrevivia: das migalhas caídas da mesa da sala de jantar, dos restos postos no velho vasilhame de alumínio. Longe do mar e do mangue, Caranguejo era um ser deslocado.
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