ODE AO AMÁVEL CONVÍVIO
A todos os homens que se aplicam a se distinguir...
Salústio
Quem somos nós seres humanos? Como vivemos? Como nos associamos?
Estamos condenados, portanto, a conviver.
Quais são os caminhos da amizade?
De inicio e durante muito tempo, prevalece a novidade e a generosidade. O encanto do bom encontro nos enriquece e nos norteia. A conveniência do amável convívio prospera e dá frutos. A convivência se estende por um tempo, em ascensão crescente...
No entanto, somos seres irascíveis, e em algum ponto, nos cansamos de tudo. Ai, um dia, um mostra uma expressão de desagrado que o outro estranha. Logo, há um mal-estar no ar, gerando desarmonia e desandando para desavenças.
Feridas surgem já no nascimento do homem. Elas cicatrizam ou mantêm-se abertas ao longo da vida, tornando a pessoa suscetível. Somos seres sensíveis e delicados. Quando maltratados, nos sentimos ofendidos, magoados, e até brutalizados. Guardamos nossas mágoas em um reservatório psíquico cheio de ressentimentos.
O perdão existe quase só no discurso dos cristãos. É rezado às pamparras, mas raramente exercido. Na prática, uma vez que nos sentimos humilhados ou ofendidos, destituídos ou excluídos, é de nossa natureza mergulhar na querela e na busca obsessiva por vingança.
Anseia-se por justiça. E, em especial no Brasil, sabemos que a justiça existe, porém é lenta, é errática, é fria e não compensa as perdas afetivas. Na justiça, jamais há um abraço afetivo reconciliador entre contendores. Eis o motivo pelo qual nossa justiça não nos ressarce de mágoas passadas.
Aos ex-amigos, agora digladiadores, resta a possibilidade de assumir uma atitude de humildade ao se saber humano, precário e finito. É quando então se pode evoluir para a compreensão da conjuntura relacional que implica e envolve o outro contendor.
No entanto, no mais das vezes, o que captura corações e atitudes, é a sanha pela querela, desenvolvendo comportamentos agressivos visando à retaliação pelas ofensas sofridas. Toda disputa tende a se tornar feroz e a crescer exponencialmente.
O narcisismo de nossas pequenas diferenças opera como uma bonita fagulha na noite, que incendeia a palha, a lenha, a floresta, tornando nossas relações uma imensa fogueira de vaidades.
A história da humanidade é monótona. A maior parte da História Universal está constituída pela eterna repetição da atuação de Caim. Cumpre a nós, Homens Bons, reprimir e recalcar o componente cainista que em todos nós habita.
As nossas sociedades surgem por conveniência. Prosperam até um ponto em que amadurecem. Então perduram por anos, por décadas e se tornam consistentes pilares que dão sustentação ao edifício de uma sociedade, de um país ou de uma civilização. Ou então se desintegram na desarmonia, no desinteresse, no ódio, na guerra... O homem é uma besta-fera que gosta de briga, mais do que de paz. O conflito, a desavença, o ódio, são sempre mais convidativos, provocam com mais sedução a dissensão.
É sempre constrangedor e triste perceber a trajetória das pessoas e de nossas sociedades quando caminham para um funesto
destino. Pessoas e sociedades sofrem um inexorável declínio, até apagar-se em seu nadir. Ou então, ao se estiolarem, estilhaçam numa miríade de pequenos grupos. Vi isso acontecer nas sociedades de psicanalistas. Pálidos reflexos de uma grandeza que desabou...
Algumas civilizações conseguiram superar, controlar, redirecionar sua malignidade. E assim, atravessaram séculos. São exemplos, os hindus, os gregos, os romanos, os ingleses.
Já povos conduzidos por lideres encarnados de ódio tiveram seu arco existencial infletido para curtíssima duração, como o III Reich nazista: durou 12 anos.
Neste momento em que a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores descola de sua adolescência para a adultez, encontramo-nos nesta encruzilhada: Crescer consolidada e pujante ou estilhaçar-se qual estrela cadente?
O que pode um Presidente de Congresso propor para suplantar as querelas e fazer vigorar a harmoni
A todos os homens que se aplicam a se distinguir...
Salústio
Quem somos nós seres humanos? Como vivemos? Como nos associamos?
Estamos condenados, portanto, a conviver.
Quais são os caminhos da amizade?
De inicio e durante muito tempo, prevalece a novidade e a generosidade. O encanto do bom encontro nos enriquece e nos norteia. A conveniência do amável convívio prospera e dá frutos. A convivência se estende por um tempo, em ascensão crescente...
No entanto, somos seres irascíveis, e em algum ponto, nos cansamos de tudo. Ai, um dia, um mostra uma expressão de desagrado que o outro estranha. Logo, há um mal-estar no ar, gerando desarmonia e desandando para desavenças.
Feridas surgem já no nascimento do homem. Elas cicatrizam ou mantêm-se abertas ao longo da vida, tornando a pessoa suscetível. Somos seres sensíveis e delicados. Quando maltratados, nos sentimos ofendidos, magoados, e até brutalizados. Guardamos nossas mágoas em um reservatório psíquico cheio de ressentimentos.
O perdão existe quase só no discurso dos cristãos. É rezado às pamparras, mas raramente exercido. Na prática, uma vez que nos sentimos humilhados ou ofendidos, destituídos ou excluídos, é de nossa natureza mergulhar na querela e na busca obsessiva por vingança.
Anseia-se por justiça. E, em especial no Brasil, sabemos que a justiça existe, porém é lenta, é errática, é fria e não compensa as perdas afetivas. Na justiça, jamais há um abraço afetivo reconciliador entre contendores. Eis o motivo pelo qual nossa justiça não nos ressarce de mágoas passadas.
Aos ex-amigos, agora digladiadores, resta a possibilidade de assumir uma atitude de humildade ao se saber humano, precário e finito. É quando então se pode evoluir para a compreensão da conjuntura relacional que implica e envolve o outro contendor.
No entanto, no mais das vezes, o que captura corações e atitudes, é a sanha pela querela, desenvolvendo comportamentos agressivos visando à retaliação pelas ofensas sofridas. Toda disputa tende a se tornar feroz e a crescer exponencialmente.
O narcisismo de nossas pequenas diferenças opera como uma bonita fagulha na noite, que incendeia a palha, a lenha, a floresta, tornando nossas relações uma imensa fogueira de vaidades.
A história da humanidade é monótona. A maior parte da História Universal está constituída pela eterna repetição da atuação de Caim. Cumpre a nós, Homens Bons, reprimir e recalcar o componente cainista que em todos nós habita.
As nossas sociedades surgem por conveniência. Prosperam até um ponto em que amadurecem. Então perduram por anos, por décadas e se tornam consistentes pilares que dão sustentação ao edifício de uma sociedade, de um país ou de uma civilização. Ou então se desintegram na desarmonia, no desinteresse, no ódio, na guerra... O homem é uma besta-fera que gosta de briga, mais do que de paz. O conflito, a desavença, o ódio, são sempre mais convidativos, provocam com mais sedução a dissensão.
É sempre constrangedor e triste perceber a trajetória das pessoas e de nossas sociedades quando caminham para um funesto
destino. Pessoas e sociedades sofrem um inexorável declínio, até apagar-se em seu nadir. Ou então, ao se estiolarem, estilhaçam numa miríade de pequenos grupos. Vi isso acontecer nas sociedades de psicanalistas. Pálidos reflexos de uma grandeza que desabou...
Algumas civilizações conseguiram superar, controlar, redirecionar sua malignidade. E assim, atravessaram séculos. São exemplos, os hindus, os gregos, os romanos, os ingleses.
Já povos conduzidos por lideres encarnados de ódio tiveram seu arco existencial infletido para curtíssima duração, como o III Reich nazista: durou 12 anos.
Neste momento em que a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores descola de sua adolescência para a adultez, encontramo-nos nesta encruzilhada: Crescer consolidada e pujante ou estilhaçar-se qual estrela cadente?
O que pode um Presidente de Congresso propor para suplantar as querelas e fazer vigorar a harmoni
