A gravata frouxa e o colarinho desabotoado pediam o fim do expediente. O jovem advogado espichou-se na cadeira quase deitando e esticou os braços com os dedos entrelaçados como asas de borboletas e impulsionando o ar para cima com as mãos espalmadas para fora, espreguiçou-se. Um vento abrupto levantou as malhas da cortina chicoteando todas as dimensões da pequena sala, derrubou da escrivaninha um calhamaço de papel. Com o vento, uma borboleta, débil, ingressou na sala e titubeante assentou-se sobre a borda da plaquinha de madeira que indicava: Bocardo, advogado. Levantou-se lentamente, coçou a barba de três dias, passou pelas folhas caídas ao chão sem se deter e apoiando-se no armário de aço que armazenava as pastas de seus vinte e sete clientes, parou pensativo, observando o redemoinho de poeira dançar no meio da rua.
Do conto Com as borboletas, a noite?
Do conto Com as borboletas, a noite?