?Não há cultura que não tenha construído labirintos. (Pois não dizem que a alma humana é um labirinto?) E desenhando esse emaranhado de entradas e saídas estaríamos dramatizando nossa desamparada situação. Há duas portas: a de entrada, ou vida, e a de saída, a morte. Mas entre uma e outra, que confusão danada cada um apronta. Como a gente fica perdido, batendo com a cabeça nas paredes! [...]
Vai ver que o erro da gente é querer sair do labirinto. Não adianta, o labirinto existe. Por isso muita gente sofre de labirintite física e metafísica. O jeito é aprender a andar nele. Deve haver até alguma maneira de iluminar alguns de seus recantos. Ou, como faziam os antigos, um jeito de implantar, de desenhar um jardim dentro e fora do labirinto, de tal forma que nossas dúvidas e perplexidades em forma de arabescos, de volutas e elipses, ao florescerem, tornem mais amenos os nossos descaminhos.?
Trecho da crônica ?Como andar no labirinto?
Affonso Romano de Sant?Anna nasceu em Belo Horizonte, em 1937, e é um dos grandes poetas, cronistas e ensaístas brasileiros da atualidade. Em Como andar no labirinto, estão reunidas 65 deliciosas crônicas, publicadas em diversos veículos da imprensa brasileira, que abordam, com muita inteligência e leveza, as grandes miudezas do cotidian