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    Como conversar com um fascista

    Por Marcia Tiburi
    Existem 15 citações disponíveis para Como conversar com um fascista

    Sobre

    • Marcia Tiburi é cronista da revista Cult. Doutora em filosofia, escreve crônicas e ensaios para importantes revistas e jornais, como Zero Hora, Folha de S.Paulo e Vida Simples, e foi debatedora do programa Saia Justa, do GNT. • Com mais de dez livros publicados, é autora de Era meu esse rosto, romance finalista do Prêmio Jabuti e do Prêmio Portugal Telecom, também publicado pela Editora Record. Reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro Com sua rara capacidade de explicar temas filosóficos para o leitor comum, Marcia Tiburi alcançou o sucesso de público e de crítica como uma filósofa pop. E nesses tempos de nervos à flor da pele e agressivos embates políticos, Marcia traz em Como conversar com um fascista um propósito filosófico-político: pensar com os leitores sobre questões da cultura política experimentada diariamente, de um modo aberto, sem cair no jargão acadêmico. O argumento principal é como pensar em um método, ou uma postura, para contrapor o discurso de ódio, seus reflexos na sociedade brasileira e repercussão nas redes sociais. A filósofa propõe o diálogo como forma de resistência e analisa notícias recentes e acontecimentos do mundo político para mostrar mais uma vez que é possível falar sobre temas complexos de maneira que todos compreendam. Com apresentação de Rubens Casara e prefácio de Jean Wyllys, o livro traz ensaios inéditos e alguns já publicados na revista Cult, combinando a profundidade e a sofisticação intelectuais presentes na medida certa na obra de Marcia Tiburi.
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    Citações de Como conversar com um fascista

    Não há maneira melhor de destruir a política do que fazendo uso eficiente do ódio.

    A banalização do mal é feita pelo ser humano comum que não se responsabiliza pelo que faz de ruim ou acha que o que faz de ruim não tem consequências para os outros; não reflete, não pensa.

    Na origem de todo ódio está a básica fofoca, o assédio moral, a maledicência em geral.

    O diálogo é uma prática de não violência. A violência surge quando o diálogo não entra em cena.

    O fascismo possui inegavelmente uma ideologia: uma ideologia de negação. Nega-se tudo (as diferenças, as qualidades dos opositores, as conquistas históricas, a luta de classes etc.), principalmente, o conhecimento e, em consequência, o diálogo capaz de superar a ausência de saber.

    Em Eva e os padres, livro do historiador Georges Duby, lemos a história de um tal Gervais de Tilbury que, passeando entre as vinhas na região de Champagne, encontrou uma moça. No relato, Gervais de Tilbury acha-a atraente, fala-lhe “cortesmente de amor lascivo”, prepara-se para ir mais longe. Ela o trata com rudeza, recusa-se: “Se perder minha virgindade, serei condenada.” Gervais cai das nuvens. Como se pode resistir a ele? Sem dúvida, essa mulher não é normal. É uma herética, uma dessas cátaras que se obstinam em considerar toda cópula diabólica. Ele tenta trazê-la à razão, não consegue. Denuncia-a. Ela é presa. Julgada. A prova é incontestável. Ela é queimada (p. 65).

    Diante dos riscos do fascismo, o desafio é confrontar o fascista com aquilo que para ele é insuportável: o outro. O instrumento? O diálogo, na melhor tradição filosófica atribuída a Sócrates. Metaforicamente,

    O fascismo possui inegavelmente uma ideologia: uma ideologia de negação. Nega-se tudo (as diferenças, as qualidades dos opositores, as conquistas históricas, a luta de classes etc.), principalmente, o conhecimento e, em consequência, o diálogo capaz de superar a ausência de saber. O fascismo é cinza e monótono, enquanto a democracia é multicolorida e em constante movimento. A ideologia fascista, porém, deve ser levada a sério, pois, além de nublar a percepção da realidade, produz efeitos concretos contrários ao projeto constitucional de vida digna para todos. Os fascistas, como já foi dito, talvez não saibam o que querem, mas sabem bem o que não suportam. Não suportam a democracia, entendida como concretização dos direitos fundamentais de todos, como processo de educação para a liberdade, de governo através do consenso, de limites ao exercício do poder e de substituição da força pela persuasão. Essa mistura de pouca reflexão (o fascismo, nesse particular, aproxima-se dos fundamentalismos, ambos marcados pela ode à ignorância) e recurso à força (como resposta preferencial para os mais variados problemas sociais) produz reflexos em toda a sociedade.

    O fascismo recebeu seu nome na Itália, mas Mussolini não estava sozinho. Diversos movimentos semelhantes surgiram no pós-guerra com a mesma receita que unia voluntarismo, pouca reflexão e violência contra seus inimigos. Hoje,

    O fascismo, porém, não necessita de racionalizações, uma vez que se refere a dados intuitivos e imediatos, que não dependem de reflexão (ao contrário, o fascismo se alimenta de dados que não suportam qualquer juízo crítico), e, portanto, aptos a serem incorporados por todos e, com mais facilidade, pelos mais ignorantes.

    Não há garantia de amor-próprio no narcisismo. O narcisismo é empáfia sobre o outro pelo medo de si. Preferimos

    Quem sente ódio antes sentiu medo e antes ainda sentiu inveja. Temer

    As ondas de amor e ódio que sustentam e abalam as sociedades não podem ser controladas simplesmente, mas podem ser manipuladas. Esse controle é possível pela linguagem porque ela é a grande produtora de afetos. Por meio de mecanismos que só parecem sutis a quem se mantém ingênuo, fomenta-se o ódio em escala social pelo bombardeio de imagens terríveis, como as que vemos na televisão. A distorção de fatos para convencer o povo também se liga a essa estratégia de manipulação dos afetos por meio de discursos. Na origem de todo ódio está a básica fofoca, o assédio moral, a maledicência em geral.

    Para destruir o outro é preciso destruir a política. Para destruir a política é preciso destruir o outro. Destruir o outro garante o fim de sujeitos de direitos e o fim do direito dos sujeitos. É preciso humilhar e aviltar pessoas e populações evitando assim a realização da democracia que propõe uma sociedade inclusiva para todos. Ao

    o fascismo é um amálgama de significantes, um “patrimônio” de teorias, valores, princípios, estratégias e práticas à disposição dos governantes ou de lideranças de ocasião (que podem, por exemplo, ser fabricadas pelos detentores do poder político ou econômico, em especial através dos meios de comunicação de massa).

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