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    Como nascem os monstros

    Por Rodrigo Nogueira
    Existem 9 citações disponíveis para Como nascem os monstros

    Sobre

    Carioca, casado, 31 anos, um filho de 3, o autor deste romance não ficcional é um ex-soldado da PM que está preso desde 2009. Misturando sua vivência pessoal à de outros colegas de farda – com alguns toques de ficção para preservar a identidade dos verdadeiros atores – ele conta aqui a dramática trajetória do soldado Rafael. O jovem entra para a carreira na PM acreditando em sua missão de defender os bons e prender os maus. Dia a dia, porém, vai sendo corrompido pela convivência com policiais mais antigos e graduados, que lhe ensinam a cartilha da degradação: como mentir, achacar, furtar, roubar, torturar, destruir e esconder os rastros de todos esses crimes. Numa narrativa forte, visceral, em que às vezes chegamos a sentir o cheiro da pólvora, Rodrigo Nogueira conseguiu criar, em sua estreia como romancista, um livro impactante, que faz despertar corações e mentes. Depois de lê-lo, certamente você vai achar A elite da tropa (e o filme nele inspirado) um conto de fadas.
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    Citações de Como nascem os monstros

    As políticas de segurança, ao contrário do que vendem, não estão preocupadas com uma polícia eficiente, que trabalhe para o bem comum; estão apenas mais refinadas em seu modo de mascarar a real intenção de seus gabinetes: cercar os dominantes de proteção e relegar aos menos abastados aquilo que der.

    Sempre na base do improviso, vai dando um jeito de fazer de tudo, sem ser especialista em nada.

    Famílias destruídas de ambos os lados, choro, morte e miséria para todos, e o grande maestro, a orquestrar a nefasta peça, incólume e sorridente: o estado.

    A animosidade do policial com relação ao bandido carioca é proveniente do mais puro revanchismo, e vice-versa. Esse ciclo de violência e morte se renova dia a dia, com a repetição de atos de barbárie de ambos os lados, mas sua origem é culpa do aparato estatal.

    Nenhum, eu digo e afirmo, nenhum recruta sai do CFAP pronto para empunhar uma arma no meio da rua.

    Moral, convicções, ideais são tão voláteis quanto o álcool. Se sujeitados a condições extremas, podem desaparecer sem deixar um vestígio sequer. E não foi essa a condição mais adversa à qual nosso pobre ignóbil foi lançado, tampouco a derradeira capaz de abater seu espírito, mas a primeira em que foi confrontado acerca do certo e do imoral (?), dos limites entre o crime e o butim. Apesar de não ser dos mais inteligentes, e ler bem menos do que desejava, um livro particularmente perturbador lhe vinha à lembrança. Além do bem e do mal o deixara com dores de cabeça durante algum tempo e, para sua surpresa, Nietzsche pede licença e senta-se ao seu lado. Porém não diz nada, só fita seus olhos com certo ar de divertimento, aguardando uma possível indagação: “Tá olhando o quê?” “Eu? Nada não…” “Então me deixa quieto, seu sifilítico infeliz, não tá vendo que eu tô em crise moral?” “Posso ajudar?” “Talvez… Com a ‘genealogia da moral’, você quis dizer o quê?” “É muito complexo para te explicar assim, de supetão; basicamente, a moral é um conceito mutável, tão metamórfico quanto você pode ser, dependendo das condições às quais é exposto…” “Mas eu pensei que o eterno retorno é quem determinava, e estava quase me convencendo a ficar com tudo…” “Iá! Tá entendo agora?” “Não posso crer… O que você acha de eu ficar com esse dinheiro?” “Você é quem sabe!” “Porra, é essa a ajuda que você quer me dar?” “Bem, você sabe o que é certo para a sociedade, o que é certo para você, e o que é certo para essa sua “fezinha” cristã. Na verdade, nada do que você sabe ou deixa de saber existe, só existe mesmo a sua vontade e consequentemente o que você quer que exista, ou não; então, se você acha que é certo esse bando de quadrúpedes conseguir se prover, enquanto você tem que extorquir sua genitora para continuar naquela piada que é seu cursinho de marionetes… vá em frente!” “Mas não seria imoral?”

    Como ainda era menor de idade, as sanções socioeducativas foram brandas, e virtualmente ela não possuía antecedentes criminais – mais uma medida legal (e incompreensível) a fim de “proteger” o menor infrator de constrangimentos durante sua vida adulta.

    Durante três anos, o aluno é testado ao limite na mais pura e idiota rigidez militar. Três anos em que tudo, tudo mesmo, gira em torno dos costumes de um regime absolutamente retrógrado e incompatível com as peculiaridades do serviço policial. Chegam ao ponto de dormir no chão para não desarrumar as próprias camas, feitas a régua, e inspecionadas por outro aluno “veterano”. Um milímetro fora da medida é o suficiente para que o aluno fique impedido de ir para casa nos finais de semana. As fardas têm de estar sempre impecáveis, assim como o cabelo e a barba. Os oficiais instrutores incentivam a segregação do convívio dos futuros aspirantes com os demais praças, dizendo que praça é raça ruim, ladra, burra. Desde o início aprendem que não devem se misturar, não devem dar brecha para intimidade. Tudo deve ser encarado com desconfiança, e a principal missão depois de formados seria coibir os atos dessa corja que insiste em sujar o nome da instituição. Marchas, desfiles e cerimônias são frequentes e ensaiados ao extremo. Aulas de etiqueta à mesa são ministradas para que saibam se portar e representar bem a PM em eventos sociais. Mas e aí? Ao contrário das Forças Armadas, de onde a PM tirou os moldes de sua academia, o oficial da Polícia não tem uma especialidade, uma função definida. No Exército, temos o intendente, o infante, o engenheiro e outros. E na PM? Temos o PM. Mas quem é que cuida da folha de pagamentos? O oficial. E quem determina a rotina do rancho? Ele também. Quem faz o estudo das regiões a serem patrulhadas? Quem faz o cálculo quantitativo de armas e munições? Quem pede para comprá-las? Quem manda no serviço reservado? E no trânsito? Tudo ele. Sempre na base do improviso, vai dando um jeito de fazer de tudo, sem ser especialista em nada. Desde a formação até assumir o cargo, o oficial foi treinado para ser oficial, e só. Repreender o praça é o principal, o resto vem por tabela. Não há sentido em manter essas atribuições, que eram preciosas em

    “Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E se você olhar longamente para um abismo, ele também olha para dentro de você”. Friedrich Nietzsche – PARA ALÉM DO BEM E DO MAL

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