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    Contos do nascer da Terra

    Por Mia Couto
    Existem 7 citações disponíveis para Contos do nascer da Terra

    Sobre

    Nesta reunião de contos breves, o premiado escritor Mia Couto conta histórias do cotidiano de Moçambique que tratam da identidade e do imaginário de um povo tão alegre quanto sofrido.


    Além de ser um dos maiores escritores de língua portuguesa dos nossos dias, recentemente agraciado com o prêmio Camões, Mia Couto trabalhou por alguns anos também como jornalista e contribuiu para diversos veículos de imprensa. A maior parte das histórias que compõem Contos do nascer da Terra foi publicada originalmente em jornais e revistas em 1996, e depois adaptada pelo escritor para este livro, que traz ainda um punhado de contos inéditos.

    Ao todo são 35 histórias breves que se baseiam no cotidiano quase mágico de Moçambique e exploram a sonora linguagem do português africano, revelando na escrita a identidade de um povo e o domínio muito próprio da cultura e da criatividade literária.

    Vemos aqui essa África que o Brasil tanto proclama como parte de sua própria matriz surgir na forma de contos que dão conta da diversidade e complexidade do mundo que, começando do outro lado do oceano, está tão presente na alma brasileira.

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    Citações de Contos do nascer da Terra

    Na vida tudo chega de súbito. O resto, o que desperta tranquilo, é aquilo que, sem darmos conta, já tinha acontecido. Uns deixam a acontecência emergir, sem medo. Esses são os vivos. Os outros se vão adiando. Sorte a destes últimos se vão a tempo de ressuscitar antes de morrerem.

    Saboreava a carícia da preguiça dominical. Domingo não é um dia. É uma ausência de dia.

    Domingo não é um dia. É uma ausência de dia.

    Pode-se morrer assim com tanta leveza, que nem se nota a retirada da vida? E o médico, lhe amparando, já na porta: — Não se entristonhe, a morte é o fim sem finalidade.

    Do outro lado da avenida estão as putas. As prostiputas, como ele chama. Conhece-as a todas pelos nomes. Quando não tem clientes elas se adentram pelo jardim e sentam junto dele. Vlademiro lhes conta suas aldrabices e elas tomam a baboseira dele por cantos de embalar. Às vezes, escuta as noturnas menininhas gritar. Alguém lhes bate. O velho, impotente, se afunda entre os braços, interdito aos pedidos de socorro enquanto pede contas a Deus. — Deus está bom de mais, já não castiga ninguém.

    Do outro lado da avenida estão as putas. As prostiputas, como ele chama. Conhece-as a todas pelos nomes. Quando não tem clientes elas se adentram pelo jardim e sentam junto dele. Vlademiro lhes conta suas aldrabices e elas tomam a baboseira dele por cantos de embalar. Às

    Se um mortal tem mais que um deus-pai não pode ter mais que uma crença?

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