Pense bem, olhe ao seu redor, ajuste a lente, vá até esquina e se ajeite, sim, mas como um ‘franco atirador’. Acomode-se na primeira fila e observe... o desterro da família, o olhar obsequioso do pai, a complacência permissiva da mama, o suicídio diário dos trabalhadores, a conversa estéril sobre o cotidiano, a mão que treme ao levar o café à boca, o andar sonâmbulo das crianças que se dirigem às escolas e ao cadafalso da periferia do cosmo. A fantasmagoria das violências embutidas em nossos genes, o movimento ininterrupto nos pontos de ônibus, a espera interminável, a busca interminável por um ônibus estelar que os levem para bem longe de tudo. Abra o jogo! Não aqui, não agora! Mas você sabe que o imperativo da tua vida sempre foi a subserviência e a prática do luto com os teus sentimentos e dos outros, e que fazem de ti um ser admiravelmente aniquilado. Esta leitura, como de sempre, não segue nenhuma linha e nenhuma corrente de pensamento, é apenas um 'manual' anti-literatura, uma forma de implodir os textos-super-limpos e toda a estética gramatical babaca. As palavras foram se organizando e se sedimentando umas sobre as outras, como os dejetos do rio Tietê, chocando-se e desmantelando-se e nada mais.
José Montanha
Contos Sujos e Miseráveis
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