Este livro é o resultado do questionamento permanente do que é ser mulher na cultura brasileira. É também uma forma de resistência política, explica a antropóloga Mirian Goldenberg sobre Coroas: corpo, envelhecimento, casamento e infidelidade, uma análise fundamental sobre a relação da mulher com os efeitos do tempo. Mirian parte da realidade biológica, psicológica e social representada pelo corpo para, a partir daí, fazer uma notável análise da condição feminina em nosso país.
Mirian defende a idéia de que no Brasil o corpo é um capital, um bem desejado até mesmo como veículo de ascensão social. Um corpo sexy, jovem, magro, sem rugas e em boa forma pressupõe sacrifício, trabalho e investimento financeiro. No Brasil, particularmente no Rio de Janeiro, o corpo perfeito é o único que, mesmo sem roupas, está decentemente vestido. Para a autora, o corpo é a verdadeira roupa: “É o corpo que deve ser exibido, moldado, manipulado, trabalhado, costurado, enfeitado, escolhido, construído, produzido, imitado. É o corpo que entra e sai de moda. A roupa é apenas um acessório para a valorização e a exposição desse corpo da moda”, afirma Mirian.
E como envelhecer neste contexto? É justamente esta discussão que Coroas traz à tona. Um livro fundamental para homens e mulheres de todas as idades.
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valores como liberdade, autonomia, independência e autenticidade são muito mais importantes do que aqueles que se baseiam na aparência ou em ter um marido.
Em uma cultura em que o corpo é um capital, mas que ter um marido parece ser um capital mais importante ainda, é muito difícil, quase dramático, envelhecer sozinha.
Há ainda outra diferença: a emancipação das alemãs parece ser uma conquista de toda a vida, desde jovens. A liberdade das brasileiras parece ser uma conquista tardia, após cumprirem os papéis obrigatórios de esposa e mãe. Mesmo as que são casadas sentem-se mais livres após os 50 para “serem elas mesmas”.
Declarar que um homem e uma mulher devem bastar-se de todas as maneiras ao mesmo tempo durante toda a vida é uma monstruosidade que engendra necessariamente hipocrisia, mentira, hostilidade, infelicidade.
Parece, então, que o que as espanholas mais desejam hoje é a igualdade, dentro e fora do espaço doméstico, e o reconhecimento de sua atuação como profissionais, intelectuais etc. Já as brasileiras, e as estrangeiras que os espanhóis buscam para casar, estariam mais centradas na família, especialmente no marido e nos filhos, e não na profissão. As brasileiras, portanto, ocupariam um lugar social que as mulheres espanholas não querem e não valorizam.
uma mulher é compreensiva quando não impede seu marido de manter mundos relacionais nos quais ela esteja excluída, isto é, que ele possa sair e compartilhar toda uma série de atividades apenas com outros homens, seus amigos. Compreensiva é entender que o marido não pode estar tão comprometido quanto a mulher com as questões domésticas e familiares (organização da casa, atenção aos filhos, relações com os familiares etc.). Compreensiva é, por fim, aquela mulher a que ele pode procurar como uma mãe em busca de carinho e proteção, sem medo de ser julgado ou repreendido, mas, também, aquela que ele pode tratar como uma filha, impondo sua autoridade e tendo esta autoridade aceita e reconhecida.
Por que um espanhol quer se casar com uma brasileira? Jordi: Para encontrar uma parceira que lhe permita estabelecer relações de gênero tradicionais centradas na segregação de papéis.