Crime e Castigo
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A vela, quase no fim, iluminava mal o quarto onde um assassino e uma prostituta acabavam de ler um livro sagrado.
depois do insucesso, os projetos mais bem combinados parecem idiotices.
Quantas vezes me aconteceu mandar ao diabo a sociedade e, depois de a abandonar, voltar para ela a toda a pressa… Envergonhamo-nos da nossa misantropia e procuramos de novo o nosso semelhante!
Perdão, mas eu pertenço ao grémio dos tolos — interrompeu Razoumikhine.
Estou em acreditar que aquilo que mais receamos é o que nos faz sair dos nossos hábitos.
Perdão, mas eu pertenço ao grémio dos tolos
As coisas mais insignificantes têm às vezes grande importância e é regra geral por elas que a gente se perde…»
Pouco a pouco foi caindo numa melancolia profunda, numa espécie de torpor intelectual.
Uma manhã levantei-me, vesti os meus farrapos, ergui as mãos ao céu e fui procurar Sua Excelência, Ivan Afanasievitch. Conhece Sua Excelência? Não? Pois então não conhece um santo.
Se tivesse de passar a vida sobre um alcantil, sobre um rochedo perdido na imensidade do mar, que me oferecesse apenas o espaço suficiente para firmar os pés; se tivesse de viver assim mil anos, sobre o espaço de um pé quadrado, na solidão, na treva, exposto a todas as intempéries, preferiria a morte a tal existência! Viver, seja como for, mas viver! Como isto é verdadeiro, meu Deus, como é verdadeiro! O homem é covarde! E também é covarde o que covarde lhe chama!», acrescentou
Parecia-lhe então ver o mundo inteiro assolado por um flagelo terrível e sem precedentes que, vindo do fundo da Ásia, caíra sobre a Europa. Todos deviam morrer, salvo um pequeníssimo número de privilegiados. Uns seres microscópicos, triquinas de uma nova espécie, introduziam-se nos corpos das pessoas. Esses seres eram espíritos dotados de inteligência e vontade. Os indivíduos infetados ficavam no mesmo instante doidos e furiosos. Todavia, coisa singular, nunca os homens se tinham julgado tão sábios, tão seguros da posse da verdade como julgavam estar esses desgraçados. Nunca tinham tido mais confiança na infalibilidade dos seus juízos, na solidez das suas conclusões científicas e dos seus princípios morais. Aldeias, cidades, povos inteiros eram atacados daquela moléstia e perdiam a razão, não se compreendendo uns aos outros. Cada um julgava saber, ele só, a inteira verdade e, contemplando os seus semelhantes, afligia-se, batia no peito, chorava e torcia as mãos. Ninguém se entendia sobre o bem e sobre o mal, nem sabiam quem se havia de condenar e quem se havia de absolver. Matavam-se uns aos outros, movidos por uma cólera absurda. Reuniam-se, formando grandes exércitos; porém, começada a campanha, as tropas dividiam-se bruscamente, as fileiras rompiam-se, os guerreiros atiravam-se uns aos outros, assassinavam-se e devoravam-se. Nas cidades tocava-se a rebate todo o dia, mas porquê e a que propósito? Ninguém sabia e toda a gente andava inquieta. Cada um propunha as suas ideias, as suas reformas e nunca havia acordo; a agricultura fora abandonada. Aqui e acolá reuniam-se vários grupos, combinavam uma ação comum, juravam não se separarem. Um instante depois esqueciam-se da resolução tomada, começavam a acusar-se uns aos outros, a bater-se, a matar-se. Os incêndios e a fome completavam este triste quadro. Homens e coisas, tudo perecia. O flagelo estendia-se cada vez mais. No mundo inteiro só podiam salvar-se alguns homens, predestinados a refazer o género humano, a renovar
Todavia, coisa singular, nunca os homens se tinham julgado tão sábios, tão seguros da posse da verdade como julgavam estar esses desgraçados. Nunca tinham tido mais confiança na infalibilidade dos seus juízos, na solidez das suas conclusões científicas e dos seus princípios morais. Aldeias, cidades, povos inteiros eram atacados daquela moléstia e perdiam a razão, não se compreendendo uns aos outros.
— A sua pergunta é de uma certa amplitude. Estarei enganado, mas parece-me ter notado uma visão mais nítida das coisas, um espírito mais crítico, uma atividade mais… — É exato — interrompeu Zozimov com ar despreocupado. — Não será isto? — replicou Petrovitch, que agradeceu ao médico com um olhar amável. — O meu amigo há de concordar — prosseguiu, dirigindo-se a Razoumikhine — que há progressos evidentes, pelo menos no que respeita aos ramos científico e económico… — Um lugar comum! — Perdão, isto não é um lugar comum! Por exemplo, se me disserem: «Ama o teu semelhante» e eu queira realizar este conselho, o que resultará daí? — perguntou Loujine com calor. — Rasgo a minha capa, dou metade ao próximo e ficamos ambos seminus. É tal como diz um provérbio nosso, «quando se perseguem muitas lebres ao mesmo tempo não se apanha nenhuma». A ciência, pelo seu lado, manda-me atender apenas à minha pessoa, uma vez que tudo neste mundo se baseia no interesse pessoal. Aquele que segue esta doutrina cuida como deve dos seus interesses e fica com a capa inteira. Acrescenta a economia política que uma sociedade será tanto mais sólida e venturosa quanto maior for o número de fortunas particulares ou de capas inteiras dentro dessa sociedade. Portanto, trabalhando apenas para mim trabalho também, por essa mesma razão, para todos os outros, do que resulta o meu semelhante vir a receber mais do que a metade de uma capa, e isso, não mercê de liberalidades particulares ou individuais, mas em consequência do progresso geral. A ideia é simples e, infelizmente, levou muito tempo a propagar-se e a triunfar da quimera e do devaneio. Todavia não me parece que seja necessária uma grande inteligência para compreender… — Perdão, mas eu pertenço ao grémio dos tolos — interrompeu Razoumikhine. — Fiquemos por aqui. Tinha um objetivo ao encetar esta conversa, contudo há três anos a esta parte tenho os ouvidos tão causticados desse palavreado, de todas essas banalidad