Este livro reflete teologicamente sobre o mal e o sofrimento aproximando a sensibilidade da teologia da libertação à reflexão clássica sobre o mistério da iniquidade. Reconhece que lacunas ou resquícios antigos na abordagem das injustiças e do pecado (culpabilismo exacerbado, castigo, justicialismo) podem empanar o avanço obtido pela teologia libertadora na solidariedade com o sofredor inocente. E sugere que uma reflexão teológica sensível ao mal-desgraça e engajada em ações políticas de combate à exclusão social precisa levar até o fim o postulado da providência divina: existe um Deus onipotente e amoroso que decidiu gratuitamente nos dar a chance de participar de sua Vida. Para reexaminar algumas tentativas contemporâneas que repensam a visão cristã do demoníaco, a obra oferece sua chave de leitura: combinar o caminho da linguagem simbólica com o devido peso das objeções filosóficas. Que sentido tem o mal num mundo que proveio de um Deus amoroso? Como viver da maneira mais razoável e humana possível a inexorabilidade do mal e do sofrimento sem apequenar a sugestão bíblica de que o Deus cristão odeia o mal e a maldade? A formulação clássica dos ensaios de teodiceia carrega uma aparente contradição: pretende afirmar simultânea e coerentemente que Deus é onipotente e é todo amoroso, mas o mal existe. A solução impaciente de apelar para a inexistência de Deus só adia a angústia. Com ou sem deuses, mortes estúpidas continuam ocorrendo e sofrimentos atrozes seguem nos espreitando. Além disso, como já dissera Boécio, se Deus não existe, de onde provém o bem? Em diálogo com teólogos como J. L. Segundo e Torres Queiruga, o autor gradualmente afunila a questão até chegar à concepção cristã do mal e da divindade, reconhecendo nela uma incômoda originalidade que influenciou a vida e o pensamento ocidentais justamente pelo seu potencial de quebrar a lógica redutivo-racional de pretensas teodiceias. Para o autor, a teologia cristã tem por obrigação compreender a dimensão diabólica presente no mundo e explicá-la à luz da revelação divina. De outro modo, não será propriamente teologia nem especificamente cristã, mas simulacro de ambas.
De volta ao mistério da iniquidade
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